Dizíamos no editorial passado que a votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma na Câmara dos deputados seria um grande teatro. Nossos políticos surpreenderam, e adicionaram ao drama elementos performáticos inimagináveis. Teve de tudo, de comédia a terror. De saudação a torturadores até a homenagem aos corretores de imóveis. A vontade de aparecer superou a razão da discussão e poucos parlamentares tiveram o bom senso e a dignidade de exporem o real motivo de seu posicionamento dentro do que estava sendo colocado em votação.

O que chamou a atenção, além do apelativo espetáculo de dedicatórias dos votos a familiares ou causas nada relacionadas ao tema em pauta, é o perfil dos nossos representantes. Em sua maioria, políticos profissionais, velhas raposas, perpetuados no poder por repetidos mandatos sem qualquer expressão pública ou atuação parlamentar que justifique sua reeleição. Uma vez dentro, o trabalho do congressista se resume a conservar a posição, a manter bases eleitorais e se esmerar em discursos tão demagógicos quanto incompreensíveis.

Não é a toa que mais da metade do Congresso brasileiro esteja envolvida em processos na justiça brasileira. Com a eventual mudança de governo, muitas outras transformações merecem ser começadas em nosso país. No sistema eleitoral, no custeio de campanhas, na transparência das ações e comportamento dos nossos políticos, que se dizem representantes do povo, mas que nem sempre se lembram de estender essa classificação além de seus territórios e grupos de interesse.

Estamos em ano de eleições municipais. Vamos esperar que pelo menos em nosso quintal, as campanhas mantenham um bom nível de discussão e apresentação de ideias, a exemplo do que foi a última. E que todos estejam engajados em formar uma boa composição no nosso legislativo, para amparar a próxima administração no que for preciso, fiscalizar no que for necessário, e legislar com bom senso e efetividade.

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