O Zé do Jorge caminhou lentamente para o passeio, no lado da rua na qual me encontrava. Veio com semblante sério, carregado. Se dirigindo diretamente a mim perguntando se eu cria em vida após a morte. Disse a ele que cria naquilo que a Bíblia afirma: que aqueles que crerem em Jesus Cristo terão a vida eterna.

Zé ouviu calmamente a minha exposição e, pensativo, buscou na memória um fato havido quando ele era ainda criança.

Contou-me que quando estava na fazenda de Tia Binha viu na janela a figura de uma moça muito bonita, de cabelos lisos, muito grandes, de olhos pretos muito vivos, face rosada, cuja face refletia a luz da lua e através do seu vestido muito branco, saíam ventos que vertiam no seu cabelo e nas suas roupas, como brisa. Era uma noite fria do mês de Julho, início do mês e na zona rural, sempre fazia muito, muito frio.

Ela estendia a mão a ele, passando pela janela, mesmo esta estando fechada. Disse que, apesar do medo, levantou-se da cama e veio em direção àquela figura magra, com boca rosada, dentes maravilhosamente brancos, com um sorriso leve e doce. O vestido da moça era longo, dava nos pés e ela possuía um cinto que, na verdade, era uma corda colorida, de várias cores, que pendia num dos lados do corpo. A moça insistia em olhá-lo bem nos olhos. Dizia palavras as quais ele não entendia de nenhuma forma. Não era em nenhum idioma no qual ele poderia ter algum conhecimento.

Quando ia tocar na mão da moça, esta deu dois passos atrás e com gestos, com uma das mãos, chamava-o para o exterior da casa, para o exterior da janela. Acontece que seu irmão mais velho, o Igor, dormia na cama que se encontrava embaixo da janela e, para abrí-la, teria que subir sobre a cama, consequentemente, acordando-o.

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A moça foi se afastando, se afastando e depois de pronunciar meia dúzia de palavras as quais ele não entendeu, subiu ao céu e sumiu. Disse que em todos esses anos nunca esqueceu o que para ele era mais do que um sonho.

Acreditava que fora verdade, que estava acordado, pois não se recorda de ter dormido novamente, ouvindo o caseiro adentrar na cozinha e apanhar lenha, bem como a Dona Lenir subir os degraus da cozinha e colocar pra andar o café da manhã da família.

Dona Lenir, disse Zé, se ainda estivesse viva poderia testemunhar a sua cara de espanto, os olhos arregalados, a pele esbranquiçada, sem cor, unhas brancas e os cabelos em pé. Ficou talvez dois ou três dias sem ir à escola, com medo, olhando fixamente para a janela, como se estivesse esperando nova visita da moça.

Saiu da roça para morar na cidade e estudar. O tempo passou, se casou, teve filhos.

Hoje, por causa de um velório de um parente de sua família aqui em Japaraíba, veio ao meu encontro dizendo que parou ante um túmulo no cemitério local. O túmulo era de uma jovem bem moça, nova, que morrera há muitos anos atrás. Disse que não sabia por que parara em frente àquele túmulo, tampouco a lembrança desta história.

Na lápide, quebrada estava uma frase incompleta, com uma citação bíblica.

Ele olhando fixamente para a lápide, me disse que o versículo bíblico que ali estava escrito, era o mesmo que a moça dissera no dia da janela, bem como o mesmo que eu recitara a ele nesta data.

Sorriu, agradeceu-me as palavras de conforto e se dirigiu ao carro, dizendo que iria pensar detidamente no que faria no resto dos seus dias. Essa lembrança e as palavras acerca da vida além da morte, vida eterna mexeram muito com o seu íntimo, segundo suas próprias palavras.

Histórias que o povo conta…

IJR/

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