Brenna Santos
“Com tantos aplicativos e redes sociais que inspiram essa ânsia por mostrar ao mundo o que você é, o que você pensa, o que você come e o que você veste, o jovem sente desespero em se encaixar em algum grupo que se sinta aceito”
A ideia de escrever este texto veio há alguns dias, após uma pergunta que me foi feita pelo meu pai: “Por que vocês jovens de hoje em dia são tão desinteressados?” Bem, para resumir, o contexto da conversa em que me foi dirigida tal questão era sobre política, especificamente em nosso munícipio. Ele me classificou, e toda uma geração, de ser desinteressada em ler sobre assuntos importantes como uma matéria sobre uma votação de um projeto de lei sobre o Parque dos Buritis. A matéria trazia sete páginas de entrevistas com opiniões dos envolvidos no projeto e explicações sobre os motivos da permuta e os valores, etc.
Chato, né? Pois é, dos poucos jovens que pegaram o jornal para ler, aposto que menos ainda leram a matéria por completo.
A moçada prefere assistir alguém fazer pipoca com chapinha no YouTube, ou ler sobre o jovem que bomba no Instagram com seu bumbum imenso. “O australiano fulano das quantas bomba nas redes sociais com 5 mil seguidores ao postar dezenas de “belfies” (selfies de bunda) ostentando seu bumbum redondinho. É uma espécie de versão masculina de Kim Kardashian”.
“Com tudo já prontinho no Facebook para nos ajudar a “formar” uma opinião sobre qualquer assunto de importância politica ou não, é mais fácil adotar uma ideia”
Em rebatida à pergunta respondi que não é a maioria que é desinteressada, lembrei-me de vários amigos do Facebook que enchem seus perfis com posts sobre a política no Brasil e até fora daqui, como serão as consequências de Trump no poder, se quem elegeu a Dilma também elegeu Temer junto, se foi ou não foi golpe…
Com o acesso à internet, ideias são disseminadas rapidamente, assim como opiniões são formadas rapidamente. Mas, quem dentre estes perfis e pessoas realmente se interessam por saber o que se passa na política ao seu redor? Quem ao invés de postar algo polêmico sobre alguma notícia política atual, ou ir manifestar sobre alguma coisa, e logo depois vai conferir quantas curtidas conseguiu ou quantas visualizações tem nos vídeos do Snapchat, realmente lê o jornal todo dia? Ou toda semana, ou que seja uma vez ao mês? Quem vai às reuniões da Câmara em sua cidade? Quem procura saber quem é o vice do candidato que está se elegendo na hora de votar? Quem procura saber do histórico, dentro da politica, dos vereadores em que se está votando?
“A moçada prefere assistir alguém fazer pipoca com chapinha no YouTube, ou ler sobre o jovem que bomba no Instagram com seu bumbum imenso”.
Pensando por esse ponto de vista, fico propensa a afirmar que talvez sejamos a maioria realmente desinteressada. Com tudo já prontinho no Facebook para nos ajudar a “formar” uma opinião sobre qualquer assunto de importância politica ou não, é mais fácil adotar uma ideia já estampada nas timelines do que pesquisar a fundo antes de sair dando pitaco e se afirmar em algo. E claro, sobra mais tempo pra assistir Netflix ou ver qual o look do dia no seu blog de moda preferido. São tantas opções inúteis para gastar o tempo do jovem hoje em dia, que não é de se espantar o rumo que as coisas estão tomando. E o pior é que a gente não percebe o quão inútil essas coisas são. A mídia nos entope de notícias dos romances de atores famosos no momento, das dietas que as atrizes fazem, de vídeos de gente bebendo água sanitária à caça de views, do tamanho da bunda da Paola Oliveira, de quando a esposa do Belo não quis fazer anal com ele… Sim, tem gente que perde tempo lendo isso, senão, não vendia tanto quanto vende. Senão, não haveria tantos canais de Youtubers e blogs dispensáveis quanto tem no mundo virtual de hoje.
Ver as fotos que saíram no jornal de fofoca daquela festa de 15 anos deslumbrante que você foi, ou nem foi convidado, é mais interessante que saber de qual partido o prefeito da sua cidade é, quais as suas ideias e quais projetos estão em andamento na Câmara. O que anda acontecendo aqui, na sua cidade. Estamos confundindo e depreciando as prioridades do nosso dia a dia. Estamos ficando cada vez mais supérfluos e desinteressantes.
Com tantos aplicativos e redes sociais que inspiram essa ânsia por mostrar ao mundo o que você é, o que você pensa, o que você come e o que você veste, o jovem sente desespero em se encaixar em algum grupo que se sinta aceito. E ele encontra as opções todas prontas na tela de um computador. Quando as pessoas sentirem a necessidade de se informar direito, quando deixarem de pensar que entender de política é perda de tempo, e por isso é melhor deixar pra lá e se contentar com a ignorância e os vídeos de filhotes fofinhos, o país melhorará sim. A cidade melhorará. O mundo. A busca pelo conhecimento é a chave para o aprimoramento pessoal e comunitário. E a Internet pode ajudar tanto quanto pode atrapalhar, é você quem comanda o que pesquisa, o que segue e o que lê. Vamos largar as revistas de fofoca e começar a ler mais jornal?