Encontrei com o Dually (eu falava Duáli na faculdade, e ele nunca reclamou; apenas sorria) outro dia. Rimos muito. É que o Dually viveu um momento muito interessante na vida dele e divertidíssimo para todos nós.

Dually era um moço muito inteligente. Bom moço, figura típica de gente bem criada, de família tradicional da cidade de Formiga, criado na cidade grande (Belo Horizonte) com aquela calma típica e educação cerrada, acompanhada de perto, coisa típica do nosso jeito mineiro de criar família.

Dually buscou empregar-se em bancos e logo “achou” a profissão que lhe dava felicidade e alegria: – as vendas. Era vendedor. Achou o Direito como se fosse um desafio para a sua própria vida. Queria formar-se advogado e quem sabe um dia ter o seu escritório. Queria auxiliar quem pudesse e ter uma atividade que pudesse acompanhar a sua velhice (assim dizia) sem importar-se tanto com o físico. Onde a parte física não fizesse tanta diferença.

A família era adepta do estudo. Sua mãe, funcionária do Estado, havia emplacado sua segunda aposentadoria. Separada de seu pai, vivia tranquilamente em uma cidade pequena, Aguanil, a caminho de Boa Esperança.

Seus irmãos, todos casados, com filhos, estavam cada qual tocando a sua vida, a pleno vapor.

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Dually casou-se com uma moça muito bonita e distinta, de Belo Horizonte, e talvez por causa do excelente trabalho como funcionária pública, vinha para Formiga apenas nos fins de semana. Dually era pai e mãe dos filhos, contudo, eles estavam todos moços, alguns namorando, estando a Délia prestes a se casar (o que aconteceu dali a poucos meses).

O senhor Leandro, caminhoneiro, estava agora administrando o que conseguira com esforço e determinação durante parte de sua vida: os caminhões. Era proprietário de dois caminhões (na época, hoje possui seis) novos e potentes, encaminhados em uma transportadora. Separado da mãe de Dually, buscou empenhar-se em um namoro com uma moça, acho, mais nova do que Dually alguns anos.

Vamos à história que quero contar-vos…

Aula de filosofia com o Andrezinho, Sócrates como tema e uma longa e respeitada introdução para “atacar” o tema da aula: – Ética (muito atual, não é mesmo?). Chega, bate na porta, seu longo topete a aparecer pela janela da porta (PUC Minas Arcos) e, para espanto de todos, entra o Dually com um  bebezinho nas mãos, duas bolsas nos braços e um sorriso no rosto.

Demos a ele os parabéns, julgando ser dele o menino. Ele agradeceu, pediu desculpas por atrapalhar a aula (na verdade nos salvou a todos) e sorriu. Disse que o neném na verdade era seu irmão. Contou-nos que o pai dele, senhor Leandro, arrumando uma namorada recentemente, teve com ela esse menino.

Disse que o pai, assim como ele buscou fazer uma faculdade (Direito, Unifor) e nas sextas e sábados, deixava o irmãozinho com ele, visto a esposa estar realizando cursos também. E Dually, com aquela falta de jeito típica de quem não segura um neném nos braços há mais de vinte anos, buscava a todo momento acarinhar a criança, mais para evitar seu choro do que outra coisa.

Curiosa a sua situação. Segurando nos braços aquele neném, que na verdade era seu irmão. Do alto dos seus trinta e tantos anos, quase quarenta, tinha a ternura nos olhos típica de quem adora crianças mas detesta seu choro; é apaixonado pela ternura da infância mas sobe-lhe raiva nos olhos em face das birras, choros e gritos, na grande maioria deles, sem motivo algum: – pura manha.

O Dually riu, recostou-se na cadeira, enquanto a criança ia passando de mão em mão até chegar nas minhas, onde parou até o final da noite escolar, com um soninho pesado e um sorriso maroto no canto de um dos lábios, coisa de quem achou um braço gordinho e macio, cheio do amor de Cristo e de vontade de ter mais um filho…

Nem que seja na idade do pai do Dually, pro Lucas Junior levar pra faculdade como se filho lhe fosse…

Histórias que o povo conta…

IJR/

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