Na manhã desta segunda-feira, dia 09 de maio, dezenas de estudantes da escola municipal Dr. Jacinto Campos, professores e os secretários municipais de educação – Paulene Andrade, e de cultura e turismo – Ricardo Costa, se posicionaram em frente ao prédio da Câmara Municipal, onde funciona a biblioteca pública Coronel José Vital.
Segundo o secretário Ricardo Costa, a mobilização teve como objetivo lamentar o fechamento da biblioteca, ainda que em caráter temporário, devido às obras de reforma do prédio, anunciadas pela direção da casa.
“Hoje é um dia triste para a cultura e a educação de Lagoa da Prata”, declarou o secretário. “Desde 1981 que a biblioteca está instalada aqui, ela nunca saiu, e nós já tivemos reformas muito pesadas, a última foi a do Naza… Então nesses anos todos ela está aqui e a gente faz a seguinte pergunta: será que todos os ex-presidentes estavam errados em não tirar a biblioteca ou será que a presidente dessa casa agora não teve a sensatez de entender que nós estamos tirando vinte e cinco mil livros?”, comentou.
Costa não confirmou se no período de reforma a biblioteca conseguirá funcionar. “Eu já falei da primeira vez que tocamos nesse assunto. É impossível a gente fazer a retirada desses 25 mi livros que vão ser encaixotados agora, depois a gente tem que voltar novamente, não há previsão de volta, ou seja, nós temos parcerias fortes com as escolas municipais e estaduais onde as professoras incentivam esses alunos a virem aqui pegar livros”.
O secretário ainda teceu duras críticas à obra, que segundo ele, é de um alto custo para o momento econômico do país: “Só quem trabalha com educação sabe o quanto é difícil hoje você fazer um aluno ler um livro, é material, onde o aluno consegue folhear, é uma tradição. A gente cresceu vendo essa biblioteca aqui e o que eles estão propondo é uma reforma, de setecentos mil reais, é uma obra faraônica, a gente teve acesso à planta só hoje, e é uma coisa que só a Cidade Administrativa e Brasília tem, um negócio assim que a gente não consegue entender, num período de crise, gastar 700 mil reais dessa forma. Hoje é um dia triste pra cultura e pra educação lagopratense”, disparou.
O secretário atribuiu a decisão à presidência do Legislativo e disse que os demais vereadores não participaram do processo. Ele disse também que ainda não sabe para onde vai a biblioteca.
“Nós fomos notificados, nós já fizemos uma mobilização dos setores da educação, dos amantes da cultura, da Acadelp, várias entidades deram seu apoio, na oportunidade recebemos o apoio de quase todos os vereadores, os próprios vereadores passaram que eles não votaram esse projeto da mudança da Câmara, então é algo que vem direto da presidência. O que a gente pode deixar claro pra comunidade é que eles não serão lesados, nos próximos dias a gente já vai anunciar onde será a biblioteca, com certo pesar no coração porque a gente vê a biblioteca pela primeira vez na sua histórica saindo da sua casa original”, comentou, informando que o acervo será levado para a praia. ”Nós estamos fechando, os livros eles vem pra secretaria de cultura já. Nossa grande preocupação é com os funcionários e com o acervo. Essa semana a gente tá trabalhando na locação, para fechar o que for necessário, pra gente já na próxima semana se tudo der certo já anunciar o novo local. Nossa preocupação é que ela fique no centro”.
O Secretário disse ainda que a Acadelp – Academia Lagopratense de Letras, ficou de fora do projeto da Câmara.
“A Acadelp que sempre esteve presente desde sua fundação perto da biblioteca, ela não foi contemplada, ela não foi privilegiada pela presidência, então ela não voltará pra cá, não tem espaço pra ela”, disse.
Na avaliação do secretário, a mudança representa uma perda para a cultura. Ele tornou a criticar o investimento feito pela casa.
“Perda, totalmente por causa do momento que ela está acontecendo. Nós terminamos o primeiro bimestre agora, todos os projetos literários que dependem dessa biblioteca estão sendo demovidos. A grande questão também é a questão econômica que o país passa, 700 mil reais é muito dinheiro pra se fazer uma reforma. Todas as pessoas críticas, de bom senso, sabem que o prédio não necessitava, na pior das hipóteses era só colocar um piso… a questão que a gente fica sem entender é que esses 700 mil poderiam voltar para a cultura, poderia voltar pras Ongs, poderia ir pra várias entidades, pra segurança pública, que Lagoa da Prata tanto carece, dava pra comprar viatura pra Polícia, pra Guarda, com 700 mil em qualquer secretaria que você alinhar você consegue fazer um bom trabalho”, concluiu.
Perda maior será para os alunos do Jacinto Campos, avalia secretária
A Secretária de Educação, Paulene Andrade, disse que sobretudo os alunos da escola estadual dr. Jacinto Campos ficarão prejudicados com a mudança.
“Eu acho lamentável o que está acontecendo aqui hoje, eu vejo com muita tristeza o descaso que a educação e a cultura sofrem em nosso país. Está aqui hoje o exemplo disso. Nós temos ao lado da biblioteca uma escola com quase 700 alunos que usam muito essa biblioteca, estão sempre aqui pesquisando, lendo… a gente faz todo um trabalho de conscientização, da importância da leitura, do acervo literário, e isso cai por terra quando uma casa entende que a reforma é mais importante que os livros que aqui estão. São cerca de 25 mil exemplares que serão desalojados e que vão tirar da criança esse direito à leitura e essa vontade que eles adquiriram ao longo do tempo de ter acesso a essa cultura. A gente fica realmente muito triste”, afirmou.
A diretora da escola municipal Dr Jacinto Campos, Adriana Ferreira, também lamentou a mudança da biblioteca:
“Nós estamos muito tristes mesmo, é lamentável a situação da perda dessa biblioteca municipal porque infelizmente, na nossa escola, a gente não tem espaço para construir uma biblioteca. No Jacinto a gente tem uma demanda muito grande, a gente tem uma fila de espera enorme, a escola tem uma procura muito grande e a gente não tem um espaço físico para construir uma biblioteca na escola. Nos eventos que tem aqui na biblioteca nós sempre participamos, sempre a gente vem pegar livros emprestados, tanto com as professoras quanto com as famílias, então é lamentável. Infelizmente eu não sei como resolver essa situação”.
Segundo a diretora, dos 697 alunos do Jacinto Campos, ela acredita que setenta por cento sejam frequentes na biblioteca.
Presidente da Câmara dá sua versão
Segundo a presidente da Câmara, vereadora Quelli Cassia Couto, sobre o fechamento da biblioteca, ela disse que “nem a presidente da Câmara nem qualquer vereador tem o poder de fechar qualquer biblioteca porque essa decisão cabe ao poder executivo, uma vez que a biblioteca pertence à administração”. “Na verdade, a reforma da Câmara hoje não é uma decisão da presidente Quelli”, emendou. “Eu simplesmente estou dando andamento a um projeto do então presidente Cabo Nunes, que foi feito em 2014. Até por uma questão de zelo com a coisa pública, quando eu assumi a primeira coisa que perguntei aos técnicos era o que poderia acontecer se não fizéssemos a reforma. Fui orientada da seguinte forma, se não desse prosseguimento a um projeto que já havia custado aos cofres públicos R$ 30 mil, que eu teria que fundamentar essa decisão, mediante reunião com técnicos que me mostraram todos os detalhes, e tendo inclusive uma parte já sido executada, que era a parte do telhado, resolvi dar continuidade ao trabalho que já estava sendo feito”, informou Quelli. “Não dormi e acordei falando que iria reformar a Câmara. Foi uma questão de responsabilidade e de ter que responder a órgãos de controle”, explicou.
Aviso prévio
A presidente afirmou ainda que os ocupantes das salas do prédio foram avisados com antecedência. “Definindo pela reforma, a nossa preocupação foi pelos espaços cedidos. Tomamos o cuidado de avisar tanto a biblioteca, o Ipsemg e a Acadelp, inclusive agendamos uma reunião exclusiva para mostrar o projeto e dizer que a reforma iria acontecer. Oficiamos os responsáveis antecipadamente sobre a necessidade de se planejarem para desocuparem as salas, porque uma vez com a reforma em curso, ninguém poderia permanecer no prédio, tanto pelos transtornos causados pela obra quanto pela questão de risco”, disse.
“O primeiro ofício foi entregue em fevereiro, depois entramos em contato telefônico, e infelizmente por parte da biblioteca não obtivemos êxito. O Ipsemg e a Acadelp tiveram uma aceitação muito grande”, continuou Quelli.
Sobre a Acadelp
A presidente disse que apesar de não constar na planta, a entidade terá espaço disponível no prédio. “Tem uma sala para a Acadelp. Por ser um prédio da Câmara, não há discriminação da destinação das salas no projeto e sim de um todo que ficará disponível. Há sim a previsão da sala para a Acadelp”, afirma.
Sobre o custo da obra
“Primeiro, não são 700 mil”, afirma a presidente. “Abriu-se uma licitação e ela está orçada em R$ 619 mil. A questão de valor, infelizmente eu por não ser engenheira, não ter formação na área, não tenho como fazer avaliação para dizer se foi caro ou barato. Foi feito processo licitatório, com duas empresas idôneas (Thor de Japaraíba e J. Carvalho de BH). Na verdade o valor que é estipulado ali quem coloca num primeiro momento foi a empresa de BH que foi contratada para elaborar o projeto e fazer as planilhas de orçamento”.
Sobre o custo do projeto
“Não teve muitas mudanças do primeiro projeto que foi feito na época do presidente Cabo Nunes. Teve algumas ampliações de salas, de levar a biblioteca para o subsolo e desde o primeiro momento deixamos claro que não queríamos nada luxuoso, uma reforma no nível do que a nossa população merece. O que a gente vê ali é uma obra que realmente vai ficar uma Câmara Municipal bonita, assim como o Saae recebeu sua reforma e ficou bonito também”, disse Quelli Couto.
A presidente informou ainda que há previsão de banheiros com acessibilidade e inclusive está se estudando a climatização do ambiente da biblioteca por causa dos livros, e rebateu os comentários sobre a biblioteca.
“Não estamos privando as crianças de nenhuma leitura, estamos buscando melhorar o espaço para oferecer aos usuários um espaço mais confortável, mas toda reforma demanda um tempo, por isso precisávamos da compreensão da administração, o que nós não tivemos. Você querer jogar o ônus para uma pessoa que não o detem é triste”, comentou.
Sobre fechamento
“Se ela vai fechar, que é o que estamos ouvindo falar, nós não temos nada a ver com isso. Estou tranquila, até mesmo porque é uma decisão que cabe a eles e eles que tem que se planejar e colocar a biblioteca num espaço para oferecer para as crianças”, disse.
Por fim, a presidente disse que estranha a atitude da prefeitura.
“Eu fico surpresa com essa preocupação porque essa é a primeira biblioteca da cidade e a maior parte dos bens que estão lá são pertences à própria Câmara Municipal, como cadeiras, móveis, etc. a maioria das coisas são da Câmara que nós cedemos para que a biblioteca funcionasse com o mínimo”, finalizou.
Sobre a mobilização de hoje
A vereadora Quelli Couto disse também que ficou preocupada com o risco de crianças entrando na obra e revelou que já esperava por alguma atitude. “Levando crianças para lá, fico preocupado com o risco, me pergunto até se as mães estão cientes dessa ação. Já havíamos nos adiantado, o vereador Adriano Morais disse que nós receberíamos uma surpresa na segunda-feira. Também servidores nos disseram que o secretário havia dito que a parte melhor era onde começava a quebrar as paredes, que era onde o show iria começar”, afirmou.
Quase na justiça
A peleja quase foi parar no Fórum. A desocupação da sala seria feita por medida judicial, segundo a presidente. “Na sexta, nosso procurador conversou com o juiz e expos a situação. O juiz se prontificou a fazer a intermediação para que as coisas se resolvessem da melhor forma possível, antes que a câmara precisasse mover uma ação de reintegração de posse”.