source

Desde sábado (19), a hashtag #MagazineLuizaRacista aparece nos assuntos mais comentados no Twitter. O motivo: a empresa anunciou um programa de trainee exclusivo para pessoas negras , mas há quem enxergue a ação da varejista de “racismo reverso”.



a lu, avatar da magazine luiza, mostra um celular
Divulgação

A hashtag #MagazineLuizaRacista foi levantada por internautas brancos, que afirmam que trainees para pessoas negras é ato de racismo reverso


- Anúncio -

Quem aderiu à campanha contra o Magazine Luiza nas redes sociais afirma que criar um programa para pessoas negras seria fechar a porta para as brancas. Essa seletividade, para estes internautas, é vista como racista, pois passaria a ideia de segregação de oportunidades para pessoas negras.



Mas hashtag também está sendo usada por tuiteiros que afirmam que a acusação não faz sentido, pois “racismo reverso” não existe. Para argumentar, foram utilizados dados que apontam para o baixo número de pessoas negras em cargos de liderança em comparação com pessoas brancas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 68,6% dos cargos gerenciais era ocupado por pessoas brancas e 29,9% por pessoas negras em 2018.



“O Magazine Luiza acredita que uma empresa diversa é uma empresa melhor e mais competitiva. Queremos desenvolver talentos negros, atuar contra o racismo estrutural e ajudar a combater a desigualdade brasileira”, afirmou diz Patrícia Pugas, diretora executiva de Gestão de Pessoas, ao site Money Times.

Segundo o advogado e filósofo Silvio Almeida, em seu livro “Racismo Estrutural”, o racismo vai além das ações pessoais de alguém, como insultos de uma pessoa branca a uma pessoa negra. De acordo com ele, o racismo é a maneira como instituições funcionam propositalmente para tornar oportunidades mais difíceis para negros e, assim, um grupo de pessoas consegue se privilegiar em detrimento de outras. O autor explica que, desta maneira, pessoas brancas conseguem se privilegiar de espaços em que pessoas negras têm desvantagens, como os cargos de liderança, por exemplo.

Racismo reverso é mito ou verdade?

Entende-se como “racismo reverso” que pessoas brancas sofreriam da mesma maneira o preconceito que sentem pessoas negras e não-brancas. No entanto, dentro dessa estrutura explicada por Almeida, pessoas brancas seguem ocupando a maior parte dos espaços de poder e têm posições sociais e econômicas mais favorecidas do que pessoas negras.

No livro “Pequeno Manual Antirracista”, a filósofa  Djamila Ribeiro explica que pessoas brancas sofrem violências diferentes das que sofrem pessoas negras. Quando se trata do argumento de que pessoas brancas também podem não ter condições de entrar nesses espaços, Djamila explica que, mesmo assim, uma pessoa branca e de classe baixa ainda terá o privilégio de raça.

“Ainda que uma pessoa branca tenha atributos morais positivos […], ela não só se beneficia da estrutura racista como muitas vezes, mesmo sem perceber, compactua com a violência racial”, diz a filósofa no livro.


“Se uma empresa está focada em quem cursou universidade de elite ou tem inglês fluente, isso pode significar que apenas pessoas privilegiadas poderão enviar seus currículos”, explica Ribeiro em trecho do livro. “Pois sabemos que, no Brasil, estudar outro idioma ou fazer um intercâmbio não é acessível para todo mundo”, acrescenta.

“Atualmente, temos em nosso quadro de funcionários 53% de pretos e pardos. E apenas 16% deles ocupam cargos de liderança. Precisamos mudar esse cenário”, afirmou a conta do Magazine Luiza em seu perfil no Twitter sobre o programa de trainee para pessoas negras. “Queremos desenvolver talentos negros como nossas futuras lideranças e ajudar a ampliar a voz da negritude no processo de digitalização no Brasil”, explicou o grupo.

Em janeiro de 2020, A Justícia Federal de Goiás absolveu um jovem oacusado de “racismo reverso”  e, na ocasião, o juiz afirmou: “Não existe racismo reverso, dentre outras razões, pelo fato de que nunca houve escravidão reversa, nem imposição de valores culturais e religiosos dos povos africanos e indígenas ao homem branco, tampouco o genocídio da população branca, como ocorre até hoje o genocídio do jovem negro brasileiro.”

Fonte: IG Mulher

- Anúncio -