Em meio às campanhas de conscientização desse mês de novembro acerca do exame para detectar o câncer de próstata surge a dúvida: mulheres transexuais e travestis precisam ser submetidas aos cuidados contra o câncer de próstata?
Para saber mais sobre que cuidados travestis e mulheres trans devem ter com relação à prevenção ao câncer de próstata conversamos com um médico urologista do Espaço de Acolhimento e Cuidado da Pessoa Trans do Hospital das Clínicas de Pernambuco (HCPE), Rogerson Andrade.
O médico explica que atualmente não existe nenhum protocolo específico para cuidados com o câncer de próstata voltados exclusivamente para pacientes trans. “O que sabemos é que qualquer paciente que possua qualquer tipo de castração – seja por um câncer, por um acidente, uma cirurgia ou por processos de hormonização, como é o caso das transexuais femininas – tem uma incidência de câncer de próstata muito baixa, porque existe uma relação direta entre esse tipo de câncer e a produção de testosterona”, explica.
De acordo com Andrade, mulheres trans e travestis, independente de ter feito a cirurgia de transgenitalização (popularmente chamada de mudança de sexo), devem seguir o protocolo geral do Sistema Único de Saúde (SUS), que indica um acompanhamento a partir dos 45 anos de idade.
“Como qualquer pessoa, elas precisam fazer acompanhamentos médicos, check-ups. E é importante que incluam os cuidados com a próstata porque, hoje, ainda não há informações suficientes sobre o assunto. Em todo o mundo, há muitos estudos sobre cirurgias, sobre satisfação psicológica, mas não há muito sobre isso”, pontua.
Outros cuidados de saúde são necessários para mulheres trans e um acompanhamento ginecológico se faz necessário. “Todas elas devem ir rotineiramente ao ginecologista, como qualquer mulher. A hormonização pela qual elas passam elava o risco de câncer de mama. E é preciso ter atenção ginecológica sobre isso, fazer mamografias”, explica.
O médico diz ainda que questão importante é aquelas que passaram pela cirurgia de transgenitalização – na qual a vagina construída com a pele do pênis – devem ficar alerta para o desenvolvimento de enfermidades relacionadas ao HPV. “Geralmente se identifica o HPV em mulheres cis no colo do útero, mas as pessoas esquecem de falar que a pele do pênis também pode pegar. Se essas mulheres não forem acompanhadas adequadamente por um ginecologista, podem até desenvolver algum câncer na vagina”.
Segundo o dr. Rogerson Andrade o vírus HPV é considerado “pangenital”, acometendo útero, vagina, vulva, anus, pênis etc e, por isso, os cuidados médicos precisam existir para evitar problemas de saúde graves.
Uma grande dificuldade no acesso a saúde de qualidade por essas mulheres é o atendimento sensível e humanizado, que respeite o nome social e a identidade de gênero de cada uma delas. Locais em que elas se sintam à vontade para serem atendidas. Mas, Andrade relata uma leve mudança no cenário.
“Hoje em dia, existem mais opções. Já existe toda uma geração de profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, que, ao longo da formação, já entram em contato e são inseridos nessas discussões, diferente da minha época. Aos poucos, com passos de formiguinha, vamos mudando pra melhor isso”, diz.