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No último dia 14, supostas  fotos íntimas do cantor Tiago Iorc vazaram na internet e causaram alvoroço nas redes sociais . Um vídeo de um homem se mastrubando também foi atribuido a ele e até memes foram feitos sobre a situação. O trecho de um hit de Tiago que diz “eu amei te ver” foi parar no topo dos Trending Topics do Twitter.

Diante das brincadeiras, o caso de Iorc  levantou um debate sobre como a opinião pública reage de modo diferente  ao vazamento de intimidades de homens e mulheres. Especialistas apontam que, para mulheres, famosas ou não, o efeito desse tipo de exposição pode ser devastador, por conta de algo que eles classificam de  revenge porn .

Revenge Porn
Reprodução/Pinterest/LifeHacker

As mulheres são a maioria das vítimas do Revenge Porn



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O revenge porn, segundo a advogada Dra. Clara Maria Roman Borges, professora de Direito Processual Penal na UFPR e na Academia Brasileira de Direito Constitucional, é uma prática típica de uma sociedade machista, também conhecida como pornografia da vingança. Ela tem como objetivo expor a sexualidade da vítima para promover a sua condenação moral pela sociedade. 

“Deste modo, as relações familiares, profissionais e de amizade da vítima são abaladas. Muitas mulheres até cometem suicídio”, explica a professora.

Quem já sentiu isso na pele foi Livia Magalhães, designer gráfica moradora de São Paulo. Ela conta em entrevista ao Delas uma situação que viveu há 10 anos, quando nem se falava nos termos revenge porn e nudes. Na época, Livia tinha apenas 14 anos e se envolveu com G. (o nome será abreviado a pedido da entrevistada), um menino do seu colégio. Os dois trocavam fotos íntimas, mas um dia ela descobriu que ele mostrava as fotos dela para amigos, inclusive para amigos mais velhos, com cerca de 20 anos de idade.

“Na época eu não tinha noção da gravidade disso, mas ter toda essa atenção sexual começou a me incomodar”, relata a designer gráfica.

Um dia, G. a chamou no antigo programa de mensagens instantâneas MSN para uma chamada de vídeo. Livia aceitou a ligação e, quando abriu a câmera, viu que G. estava em uma sala cheia de amigos. Ele pedia para ela aparecer pelada na frente da webcam. Ela recusou.

“Eles tentaram pressionar, mas continuei recusando. Nisso, G. e os amigos falaram que se eu não fizesse o que eles queriam, postariam as fotos no Orkut para todo mundo ver”, relata.

Por ter negado o pedido de G., Livia recebeu um link do álbum que ele criou com as fotos íntimas que ela havia mandado em confiança pro namorado. “Eu não abri o link, entrei no meu Orkut e deletei o meu perfil e nunca mais entrei. Até hoje, 10 anos depois, quando eu ouço o nome desses meninos, eu tenho vontade de vomitar”, contou ao Delas.


A vingança e a exposição

A situação que Livia passou, infelizmente, não é incomum. A advogada Dra. Clara Maria Roman Borges explica que esse ato consiste em divulgar em redes sociais, aplicativos de mensagens ou em sites pornográficos cenas de nudez ou intimidade sexual da vítima.

E a advogada acrescenta que a maioria das vítimas do revenge porn (ou pornografia de vingança, em tradução livre), são mulheres — as mais prejudicadas quando tem as nudes vazam na internet.

Livia lembra o que sentiu ao ver suas fotos expostas. “Eu me senti suja, usada e machucada. Foi uma sensação horrível e eu nunca mais queria passar por isso”. 

Após 10 anos do ocorrido, a designer gráfica voltou a passar por uma situação muito semelhante. Após terminar com seu namorado de longa data, ela começou a se envolver com H., que era um amigo da faculdade.

revenge porn
Reprodução/Pinterest/Jezebel.com

A maioria das vítimas do revenge porn, são mulheres


“Ficamos durante um mês, e quando vi que ele estava muito apegado, resolvi terminar, porque eu não conseguia corresponder aos sentimentos. Eu ainda gostava do meu ex, e sempre deixei isso claro pra ele, mas ele dizia que poderia me fazer amá-lo”, relata.

Aos poucos, Livia se reaproximou do ex-namorado, mas, mesmo assim, H. a perseguia nas redes sociais. Ele curtia todos os posts dela, colocava presentes na mochila dela na faculdade e a seguia pelos corredores.

“Ele era completamente obcecado. A cada mês que passava, eu via que ele ficava com mais raiva de mim por não corresponder aos sentimentos dele, até que um dia uma conta anônima no Instagram veio falar com o meu namorado. Ele dizia que estava tudo bem entre eu e ele até o meu namorado vir me ‘roubar dele’, deu detalhes de coisas sexuais que aconteceram entre nós e inventou coisas que nem aconteceram também. Ele disse que tinha fotos íntimas minhas e que poderia provar.”

 O que leva alguém a fazer a revenge porn?

 O sex coach João Ribeiro explica que as causas do ato podem ser as mais diversas, mas o objetivo é sempre o mesmo: destruir de alguma forma a imagem da pessoa perante os outros, inclusive a identidade virtual das vítimas.

 “Quase sempre o ato é ligado ao término de um relacionamento ou uma valorização de quem publicou o ato. Em alguns casos, quem divulga tal ato, acaba por divulgar redes sociais, contatos, endereços e e-mail para que a vítima continue a ser ‘violada’ não apenas por um indivíduo e, sim, por uma comunidade ou várias pessoas”, explica o sex coach.

Livia conta que H. continuou ofendendo ela e o namorado, como forma de machucar os dois. “Mas, por sorte meu namorado se recusou a recebe-las (fotos íntimas) e eles se bloquearam antes que isso acontecesse”, acrescenta a jovem.

 Como a pessoa deve agir?

Já se passou um ano desde que H. mandou as mensagens para o namorado de Livia e, mesmo assim, ela conta que ainda fica horrorizada de pensar que ele tem as fotos íntimas dela e que pode postá-las a qualquer momento.

A advogada Dra. Clara Maria Roman Borges explica que assim que a mulher tomar conhecimento do revenge porn , ela deve procurar imediatamente a Delegacia da Mulher para realizar o boletim de ocorrência, fornecendo todas as informações possíveis para que a polícia possa investigar e identificar o suspeito.

Além disso, ela deve denunciar imediatamente o conteúdo vazado, para evitar a reprodução das fotos ou vídeos e reduzir os danos psicológicos para a vítima.   

“O art. 218-C, § 1º, do Código Penal, prevê a chamada pornografia de vingança como causa de aumento da pena estabelecida para o crime de divulgação de cena de estupro, de sexo ou de pornografia. Portanto, a pena para esse crime, fixada em 1 a 5 anos de reclusão, deve ser aumentada de um a dois terços nos casos de pornografia de vingança”, observa a especialista. 

O sex coach João Ribeiro finaliza dizendo que o mais importante depois de um caso de  revenge porn é a mulher entender que ela é a vítima e não a culpada.

“Esse caminho de entendimento nem sempre é fácil, porque a mulher muitas vezes busca em atos, palavras, gestos ou momentos realizados por ela que levaram a passar por isso, tentando de alguma forma obter uma culpa inexistente para entender tudo o que viveu, afinal, a sociedade crítica e coloca sempre a mulher como a culpada de certas situações”, encerra o especialista.

Fonte: IG Mulher

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