Não é raro conhecer mulheres que sonham em colocar próteses de silicone para aumentar os seios. A mamoplastia de aumento é a cirurgia estética mais buscada no Brasil — país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo –, sendo responsável por 22,5% do total, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
De acordo com pesquisa da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), houve um crescimento de 6,1% de 2017 para 2018 do número de cirurgias de aumento de seios, e 27,6% em comparação com 2014. Em 2018, 275.283 mulheres colocaram prótese mamária. Porém, além dos riscos que qualquer cirurgia oferece, os implantes de silicone podem desencadear um distúrbio pouco conhecido pelas pacientes.
A Síndrome de ASIA, que está se popularizando pelo nome de Doença do Silicone, é uma síndrome inflamatória e autoimune que pode ser manifestada por mais de quarenta sintomas diferentes. Segundo a médica reumatologista Claudia Goldenstein Schainberg, entre eles estão: a mialgia, miosite ou fraqueza muscular; artralgia e/ou artrite; fadiga crônica, sono não repousante ou distúrbios do sono; manifestações neurológicas; alteração cognitiva, perda de memória; febre, boca seca e síndrome do cólon irritável.
Barbara Matteelli, de 28 anos, foi uma das mulheres acometida pela síndrome, o que a levou a fazer um explante (retirar as próteses). “Quando decidi colocar próteses de silicone a minha vida mudou, mas não do jeito que eu esperava que mudasse. Minha autoestima não melhorou, eu não virei modelo de biquíni, nem arrumei um príncipe encantado”, diz.
Ela conta ter sentido aumento de sono e cansaço, dores musculares e nas juntas, olhos secos e irritados, queda de cabelo, dores de cabeça, depressão, ansiedade, déficit de atenção. Como os sintomas não pareciam estar relacionado a nenhuma doença, ela foi a médicos e fez exames que não indicaram nenhum tipo de anormalidade.
“Os meus vinte e poucos anos não foram como eu esperava, esses sintomas me impediram de ter uma vida ativa e feliz, não conseguia viajar, nem estudar, nem me manter muito tempo em um emprego, de uma adolescente que adorava sair e curtir virei uma adulta anti social e pacata. Já tinha desistido de encontrar qual era meu problema e aceitei que viveria assim o resto da minha vida”, conta.
Barbara foi apresentada à doença do silicone por uma publicação no Facebook, em um grupo de mulheres com próteses de silicone. A publicação era um relato descrevendo os sintomas da síndrome de ASIA e ela imediatamente se identificou. A partir daí, aproximadamente um ano atrás, começou a jornada de Barbara para se libertar desses sintomas.
“Primeiro, procurei um mastologista para que me desse uma guia para fazer uma ressonância magnética da mama para checar como as próteses estavam. O médico disse que por protocolo do plano de saúde ele só poderia emitir guia de ressonância para casos em que havia suspeita de câncer. Depois resolvi consultar um reumatologista. Quando contei sobre meus sintomas e que eles provavelmente estavam ligados a Síndrome ASIA ele riu de mim, disse que eu sofria de fibromialgia e me passou um antidepressivo — que eu já tomava desde que coloquei as próteses”, relata a moça.
Sem um médico que comprovasse o diagnóstico da síndrome de ASIA, o explante não poderia ser feito pelo plano de saúde. Em uma clínica particular, com um médico confiável, o procedimento sairia em torno de 15 mil reais. Como Barbara estava sem emprego, precisou da ajuda de sua mãe para conseguir fazer a cirurgia.
Sobre possíveis tratamentos para quem não quer fazer o explante, Claudia explica. “Inicialmente, pode-se inicialmente tentar controlar os sintomas com paliativos, mas na ausência de resolução e progressão dos sintomas, a remoção do agente iniciador (as próteses) deve ser considerada porque induz melhora do quadro clinico”.
“Hoje, um pouco mais de um mês de cirurgia eu sinto um alívio no peito quando respiro fundo, parece que o ar entra com força nos pulmões, alguns dos sintomas aos poucos tem melhorado, sei que é um processo longo, o corpo precisa de tempo para se desintoxicar, mas eu nunca estivesse tão feliz com a minha aparência e hoje pela primeira vez depois de oito anos eu sinto esperança de que vou poder ter uma vida saudável, ativa e feliz”.