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O Brasil segue enfrentando em 2020 uma devastação ambiental pelo fogo . Até o início de setembro, 12% do Pantanal já haviam ardido em chamas, algo como 12 cidades de São Paulo. A Amazônia também clama por socorro. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o bioma em terras brasileiras não enfrenta desde os últimos 13 anos queimadas como as de junho último, quando foram contabilizados mais de 2.000 focos de fogo. 

Em crescimento constante, as queimadas ilegais estão entre as principais ameaças e não poupam nem mesmo as áreas de reserva ambiental e indígena. A NASA aponta que 54% do fogo na Amazônia em 2020 têm como causa o desmatamento. Para piorar, a temporada de seca na região só está no começo. E em meio a esse trágico cenário, não há como não recordar os esforços de um homem que perdeu sua vida lutando para proteger a natureza e seus povos.

Filho da selva ameaçada

chico mendes
Reprodução/Portal Ypadê, do governo federal

O militante e ambientalista Chico Mendes

Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, que batiza o instituto homônimo de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, era um homem que não só conhecia a Amazônia como nasceu parte dela, em 15 de dezembro de 1944. Ele era de Xapuri, um município no interior do estado do Acre conhecido como símbolo do Movimento Ambientalista Mundial. 

Seringueiro envolvido com a luta sindical pela defesa dos trabalhadores rurais, a partir de 1976 ele se mobilizou com companheiros para preservar não só o direito da terra pelos nativos, os posseiros, como a floresta e seus povos. Nessa época, de ditadura, o governo incentivou a apropriação da região para fins agropecuários e como consequência as comunidades locais viram não só seu sustento, como suas vidas em perigo com a chegada de fazendeiros vindos do sul e sudeste. 

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Os “reis do gado” então trataram logo de expulsar as famílias que viviam nessas “terras de ninguém”, como as consideravam, e depois de destruírem suas casas, começaram a fazer o mesmo com a dos bichos, pois a floresta representava para eles um obstáculo. Para conter a ameaça, seringueiros e sindicalistas então se uniram aos índios e formaram uma aliança. 

Mais que um defensor

chico mendes
Reprodução/Portal Ypadê, do governo federal

Chico Mendes deu sua vida para proteger a Amazônia e seus habitantes

Chico não era um homem de pegar em armas. Participava e ajudava a organizar “empates”, manifestações em que a floresta era protegida do desmatamento pela formação de cordões humanos. Porém, longe dos holofotes, era alto o risco dessas pessoas, entre elas até crianças e anciãos, serem trucidadas por balas, tratores ou árvores serradas. Por represálias também, como a que foi vítima Wilson Pinheiro, presidente dos sindicalistas, assassinado em 1980.  

Quanto a Chico, continuou firme e forte no seu ativismo até quando pôde. Nesse percurso, ainda participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, do qual foi presidente até o fim da vida, e entrou para a política. Foi vereador, candidato a deputado federal e tornou-se uma das principais lideranças no Acre. Em 1985, contribuiu ainda para a criação do Encontro Nacional de Seringueiros e do Conselho Nacional dos Seringueiros. 

Depois disso, o ambientalista denunciou que a Amazônia estava sendo destruída com o apoio de instituições financeiras internacionais – caso que levou até ao Senado dos Estados Unidos – e foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Envolvido cada vez mais com palestras, seminários e congressos, ao final dos anos 1980 já era uma figura respeitada e admirada no mundo todo por seus ideais de preservação e de uma reforma agrária consciente. 

Líder virou um gigante

A militância de Chico, por outro lado, incomodou e muito seus opositores, que passaram a “caçá-lo”. Depois de acusado por fazendeiros e políticos de “prejudicar o progresso”, o ativista foi ameaçado de morte, que se concluiu em 22 de dezembro de 1988, depois de um ano de intenso trabalho e envolvido com a inauguração das primeiras reservas extrativistas do Acre, fundamentais para a proteção das comunidades locais e da floresta. Na época, tinha 44 anos.

O crime, ainda que denunciado em vias de ocorrer pelo próprio Chico às autoridades, obteve uma enorme repercussão dentro e fora do país e contribuiu para que aliados, entre os quais sindicais, políticos e de direitos humanos, do ativista conseguissem se mobilizar para cobrar da Justiça e do governo a punição dos assassinos. Algo que só foi ocorrer em 1990, quando os fazendeiros Darly Alves e seu filho Darcy foram julgados e condenados a 19 anos de prisão. 

No mesmo ano, com muita pressão, a Reserva Extrativista Chico Mendes também acabou sendo fundada. Situada no Acre e zelada pelo Instituto Chico Mendes, criado em 2007 para fiscalizar as áreas de reserva, é a maior do país – cerca de um milhão de hectares – e gera renda de forma sustentável a milhares de famílias, que ainda ajudam a proteger a floresta e seus povos. No entanto, em 30 anos, esse gigantesco legado já perdeu mais de 6% de seu verde e corre o risco de sumir com a falta de apoio e incentivo governamental e o avanço da “exploração por todos”. 

Fontes: Sites Bibliotecadafloresta.ac.gov.br, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); livros “Chico Mendes, um ecossocialista”, de Porto Gonçalvez e Carlos Walter; “Chico Mendes: um povo da floresta”, de Edilson Martins; “Chico Mendes: Um Grito no Ouvido do Mundo”, de Nilo Sérgio de Melo Diniz; “Chico Mendes: Crime e Castigo”, de Zuenir Ventura; e documentário “Chico Mendes – o preço da floresta”, de Rodrigo Astiz. 

Fonte: IG GENTE

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