As mulheres começaram a ser admitidas na Força Aérea Brasileira há menos de 40 anos, em 1982. Apesar deste começo tardio e de ainda serem minoria a presença feminina na instituição está consolidada. Hoje são mais de 12 mil mulheres, que correspondem a cerca de 15,8% da FAB. Em comparação, a Marinha têm pouco mais de 8 mil militares do sexo feminino, o que corresponde a 10,8% e o exército, que apesar de ter o maior efetivo das forças armadas, conta com mais de 15 mil mulheres, correspondendo a 4,7% do efetivo.
Apesar da primeira turma de militares entrarem em 1982, enfermeiras militares já eram presentes na FAB desde a Segunda Guerra Mundial, por isso o estigma de mulheres estarem apenas na área da saúde. Mas desde 1995, elas participam de escolas técnicas e cursos para se tornarem oficiais e ocuparem funções que antes eram consideradas masculinas.
Muitas mulheres entram na Força Aérea por ser uma oportunidade de estabilidade e por ter uma carreira sólida. Muitas conhecem a carreira por amigos ou por exemplos. “O que me chamou a atenção foi um amigo estar na escola naval recebendo salário. Sempre quis uma independência, achei legal. Fiz o ensino médio e mesmo passando para a UFRJ, via oportunidades para entrar em escolas. Hoje há mais opções, mas eu tinha como entrar na AFA (Academia da Força Aérea) ou o CFS (Curso de Formação de Sargentos) ou o EAGS (Estágio de Adaptação para Sargentos), como não tinha curso técnico, fiquei entre a AFA e CFS”, conta Mayumi.
Ela decidiu estudar para entrar na FAB, então ela fez a prova. “Passei e naquela época eu não poderia escolher a especialidade, minha classificação me dava opções. Escolhi eletricidade de instrumento, que não existe mais por conta da atualização de painéis de avião, mas é de manutenção”, diz.
“Nunca passou pela minha cabeça ser militar, tanto que estava cursando letras na UFRJ. Mas como eu queria independência financeira, procurei por concursos para ter estabilidade. Encontrei o concurso para a academia da força aérea e que necessitava apenas o ensino médio, passei e foi bem diferente do que eu vivia”, conta a tenente-coronel Sabrina Bizarras.
Sabrina foi parte da quarta turma com mulheres na academia. “A turma era mista, já tinham mulheres, mas de carreira e na especialidade de intendência não tinham. A primeira turma foi em 1996 e eu fui em 99. A escola estava preparada para receber as mulheres e lá não houve diferenciação, só nas questões de alojamento”, conta.
Para a tenente-coronel, não há diferenciação. “A competitividade é a mesma e o trabalho também. Eu estou há 21 anos na FAB e particurlamente nunca vi nenhuma situação de discriminação, as que vi foram bem pontuais. Encontro mais militares do sexo masculino valorizando as mulheres do que alguns que olham torto ou algo assim”, afirma.
Mayumi conta que apesar de ser designada a consertar helicópteros, o comando a colocou na área de controle interno. “Era comum isso ocorrer, mas hoje não há mais essa possibilidade de se formar em uma especialidade e trabalhar em outra. Sinto que havia ainda um receio da mulher trabalhar em outras áreas, não senti dificuldade, mas acho que havia uma dificuldade das pessoas aceitarem a mulher em funções que existiam apenas para homens”, diz.
Para as duas, o crescimento feminino na FAB é bem positivo. “Vejo com bons olhos, há muitos comentários de generais que isso é bom por conta da maneira feminina de lidar com os assuntos, principalmente por ser multi-tarefa. Este crescimento incentiva outras mulheres a ingressarem. Mas na minha opinião a mulher dividir a jornada de trabalho com obrigações de casa pode ser algo maléfico, mas na medida do possível as mulheres dão conta e as famílias não são prejudicadas”, afirma Sabrina.
“Acho que a FAB foi uma das primeiras instituições militares que abriu mais oportunidades, todas as forças dão condição para que mulheres ingressem, mas é mais recente, já a FAB faz há mais tempo. Dentro da aeronáutica é bem comum a presença feminina. Se você entra em um quartel da FAB no Rio, você vê que o quadro é meio a meio. No Exército e na Marinha pode haver mais receio, pois essa abertura foi mais lenta”, diz Mayumi.