Câmara aprova pulverização aérea no canavial
Medida deve começar só no ano que vem – vereadores se sentiram ofendidos com termos “trouxa” e “burro” utilizados por colega parlamentar
A reunião da Câmara de vereadores desta segunda-feira, dia 26 de março, foi marcada pela discussão – em alguns momentos acalorada, do projeto de lei que permite a aplicação de produtos químicos por pulverização aérea nos canaviais de Lagoa da Prata.
A superintendente da Biosev, Tânia Fernandes, usou da tribuna na abertura da sessão para agradecer o engajamento de colaboradores e parceiros da empresa na sensibilização da comunidade, com um trabalho de esclarecimento sobre o maturador a ser utilizado na pulverização. Em seguida o locutor Claudio Martins também usou a tribuna para levar uma mensagem evangélica, entoando um um canto intitulado “vai dar tudo certo “.
Foi então iniciada a reunião, colocando já em discussão as emendas que modificavam o projeto de lei, emendas estas de autoria dos vereadores Olair Dias e Elias Isaías.
A emenda do vereador Olair, que estabelecia o pagamento de uma taxa pela empresa por cada hectare pulverizado e definia um repasse financeiro a entidades do município foi aprovada por seis a dois. Advertidas sobre a inconstitucionalidade da matéria, votaram contra as vereadoras Quelli e Cida.
O autor da emenda disse que a lei, no passado, foi questionada na justiça. Disse que a Biosev é uma empresa de grande lucro e que a aplicação do maturador não garante empregos. “Sinto a falta da Biosev no social de Lagoa da Prata” alegou.
A emenda de número 02, do vereador Elias Isaías, determinava a mistura de um elemento tensoativo junto ao produto a ser lançado, de modo a controlar a deriva, ou seja, o espalhamento do maturador e também pedia a contrapartida da Biosev na forma do plantio de árvores para formar um cinturão verde, como forma de proteger a área urbana do produto lançado.
Por sugestão do assessor jurídico da câmara, a emenda do vereador Elias foi desmembrada em duas. Elias justificou seu pedido para, segundo ele, evitar a deriva na aplicação do produto.
A discussão
De maneira geral, o posicionamento dos vereadores girou em torno da preocupação com a saúde pública e a manutenção de postos de trabalho na empresa.
A vereadora Quelli Couto reforçou a intenção de manter diálogo com a Biosev para utilizar os recursos do Fia – fundo da infância e adolescência para projetos sociais na cidade.
Em um certo momento da reunião, houve uma séria divergência entre os vereadores Joanes Bosco e Adriano Moreira – que fez um discurso inflamado sobre a consulta popular realizada pela Câmara no fim do ano passado. Joanes chegou a chamar de fajuto o discurso do colega.
As emendas do vereador Elias também foram aprovadas e o projeto – com as emendas, foi colocado em discussão.
Moreira pediu relatório sobre a consulta popular e disse que vereador “não está aqui pra mandar beijinho”.
Prefeito vai vetar, diz vereador
Arlen – Lalinho usou a palavra para dizer que é um voto de confiança dado à empresa. Pediu a ajuda da empresa para o município, na forma de esclarecimentos para a população e disse que sabe que o prefeito vai vetar o projeto.
Elias Isaías falou sobre a consulta popular e disse que foi dada oportunidade a toda população de participar. “O mais importante foi o debate em torno do assunto”, disse.
A vereadora Cida disse que o projeto não lhe passa segurança alguma. Posicionou-se contra. Disse que buscou informações junto a médicos e ainda assim não se sentiu segura. Disse que o desemprego pode aumentar com o uso do produto.
Polêmica
Ao declarar seu voto contrário, o vereador Adriano Moreira chegou a se exaltar e disse palavras que deixaram indignados os colegas de plenário, ao utilizar termos como “trouxa” e “burro” para fazer referência a quem votasse favoravelmente ao projeto. A vereadora Josiane pediu a retratação imediata da declaração e o vereador Elias fez uma manifestação de repúdio contra o colega por conta das afirmações. Joanes Bosco disse que “burro é quem não respeita a opinião dos outros”. Adriano retratou-se substituindo os termos grosseiros por expressões de mesmo significado, mas disse que o recado se mantinha.
Após o mal estar causado pela discussão, os vereadores aprovaram o projeto por seis votos contra dois. Votaram a favor: Elias, Quelli, Lalinho, Preto, Joanes e Josiane. Os votos contrários foram dos vereadores Adriano e Cida. O presidente Nunes só votaria em caso de empate.
Aplicação deve começar só em 2019
Com a aprovação da lei, a empresa está autorizada a fazer o lançamento do maturador e de adubo através do avião sobre os canaviais, respeitando uma distância mínima de um quilômetro de áreas povoadas e mananciais. O produto a ser utilizado, chamado Modus, estará à disposição para fiscalização das autoridades a qualquer momento e o esquema de aplicação, mostrando datas e locais, será encaminhado previamente à câmara.
Com a aplicação do maturador, a empresa espera aumentar sua competitividade e o crescimento da produção industrial, o que poderá refletir diretamente na manutenção de empregos e até na geração de novos postos de trabalho.
Contudo, como a discussão se arrastou por mais de três meses, a aplicação do maturador só deve começar a acontecer na safra do próximo ano, visto que esta já teve início e o produto é utilizado para acelerar o crescimento da cana antes do início da colheita.
Veja tambem sobre este assunto para entender o caso: