“Mas no momento que a gente subir naquele palco, é muito importante que a gente pense que daqui a 50 anos essa vai ser a noite que transformou a vida de muita gente […] vamos devolver a eles o direito de sonhar”. É com essa frase que Emicida finaliza o discurso antes de entrar no show AmarElo, gravado e documentado pela Netflix.
O documentário conta a produção do álbum, mesclando com o show no Theatro Municipal em São Paulo, com passagens históricas que resgatam a origem do rap, samba da luta antirracista no Brasil e da importância do povo negro para a construção do país.
O documentário gerou diversas opiniões nas redes sociais, principalmente pela mensagem de esperança e de poder negro. Muitos fãs reagiram com emoção ao documentário, principalmente por contar um lado da história do Brasil.
Conversamos com espectadores negros que assistiram ao documentário para tentar captar um pouco do sentimento que a obra trouxe em uma hora e meia de documentário.
Atenção: as opiniões podem ter spoilers.
Essência
“O documentário é extremamente símbolico para a minha negritude, minha essência, minhas raízes. Me tocou de uma maneira que sinto que sei porque fui tocada. É a história dos meus antepassados sendo contada, descrita, da maneira mais pura e verdadeira que tem. Foi lindo ver a evolução do tempo sabe? De uma maneira simples e educativa. É lindo ver de onde vemos, saber da nossa história, da nossa raiz, até minha fé foi tocada durante o documentário”.
– Nara Vasconcelos, jornalista
Pasmo de felicidade
“O enredo e a contextualização de pretos protagonistas fazendo parte de um documentário em que um preto (Emicida) protagoniza é demais. Eu, como um jovem preto, eu sabia das referências mas algumas nunca tinha ouvido falar. O filme mostra que um jovem preto consegue chegar onde quiser, sim. A obra fez uma diferença para o meu pensamento porque agora eu sei que tudo no país tem uma mão preta”.
– Wesley Maxwell, estudante
Dores
“Foi sensacional, fiquei apaixonada pela forma que o Emicida abordou. A única crítica que tenho e que me dói é que por estar em um serviço de streaming, muitas pessoas que necessitam ver isso podem não assistir por não poder pagar pelo serviço. Negros e negras sem alcance precisam assistir para entender a potência que temos”.
[sobre a cena em que aparece Marielle Franco]
“Foi um impacto muito forte, porque eu moro perto de onde ela foi assassinada. É um impacto positivo, as falas dela no documentário são essenciais, mas ao mesmo tempo dói porque o filme foi lançado no dia que marca os mil dias sem respostas”, afirma.
– Bruna Santos, estudante universitária
“Identificação e proximidade”
“Muitas vezes pensamos que o racismo é isolado, mas ao vermos toda a nossa história, vemos que temos mudar o pensamento. Acho que metade das pessoas que apareceram no documentário não apareceriam se parassem por conta da sociedade. […] O Emicida empurra a gente, ele fica cutucando a gente para ir atrás dos nossos sonhos. É incrível ver que ele instiga a gente a batalhar pelos nossos sonhos, mesmo que tenha uma estrutura que fale que não é nosso lugar. Se falam que não é para nós, o Emicida fala que é aqui mesmo que iremos ficar”.
– Beatriz Mirelle, graduanda em Ciências Sociais
Reconfortante
“É como se fosse um abraço. Conforta para caramba além de ensinar muito. Além das referências incríveis que eu cresci e o Emicida cresceu ouvindo, tudo é lindo, o show, a parte dos bastidores, os vídeos antigos de músicos que foram escolhidos. E como o próprio falou: o Teatro Municipal ficou pequeno. Eu fiquei todo arrepiado e em alguns momentos chorei, é reconfortante nesse ano tao sombrio que passamos”.
– Luan Silva, estudante
Conquista
“Para mim ele abriu portas, senti que queria ver outra obra desse tipo, contada por outro negro. Ele nos fez ver belos, com riqueza e história, é como entregar nossas mãos a nossa vida, também temos o que contar, estudar, aprender e mostrar. Chorei muito, mas foi um choro de conforto. Foi o dia que olhei pra TV, abri o Instagram e outras redes sociais e vi um preto vencendo. Ele não estava morto pra aparecer, estava metendo pé na porta e se mostrando, nos mostrando”.
– Para Karen Nunes, graduanda em Pedagogia