“Todos os encontros que eu tive foram o primeiro e o último”, conta Bruna Andrade, criadora de conteúdo e modelo. Ela é uma mulher transexual. No dia 8 de agosto, a cantora Marília Mendonça contou uma história na última live que transmitiu , em tom de piada, sobre um músico de sua banda: ele teria ficado uma mulher trans. Todos riram.
Bruna é fã da cantora e estava assistindo à live, assim que a história foi contada. Sentindo-se muito desconfortável, no dia seguinte, Bruna decidiu gravar um vídeo e publicá-la no Instagram explicando o porquê o episódio, contado como se fosse piada, foi uma atitude transfóbica. No vídeo, ela diz: “Foi muito duro ver a minha musa falar que qualquer cara que demonstrar afeto por mim vai ser chacota. Ou seja, eu sou a chacota, né?”.
A atitude de Marília Mendonça evidencia um dos grandes pilares do preconceito contra transexuais: a incapacidade de parte da sociedade ver essas pessoas como dignas de amor e carinho. “O Brasil é o líder mundial em buscas de conteúdos pornográficos de mulheres trans. Então, o desejo já existe, não queremos forçar ninguém a sentir isso. Queremos apenas que esse desejo se torne um sentimento e deixe de ser só fetiche”, explica Bruna. Por outro lado, o brasil segue liderando o ranking de país que mais mata transexuais e travestis, segundo a Associação Nacional de Transexuais e Travestis.
Transfobia na vida amorosa
A modelo relata que sua vida amorosa é complicada e que homens raramente a abordam pessoalmente, portanto, a internet se tornou o lugar com mais possibilidades de encontros. “Eu sempre deixo claro que sou trans, porque eu acho que se eu não falar eu vou criar uma falsa expectativa na pessoa e a pessoa tem que gostar de mim também por eu ser trans”, conta. Mesmo assim, segundo ela, os homens que a procuram para sair buscam algo mais discreto, em segredo, e só querem sexo casual.
Bruna conta um caso: um rapaz, com quem ela já conversava pela internet há meses, a chamou para sair algumas vezes, até que ela finalmente aceitou. Eles combinaram de ir ao cinema e o homem foi buscá-la de carro na sua casa. “Nós chegamos no shopping, compramos o ingresso e fomos tomar um chope na praça de alimentação, enquanto conversávamos. Ele me disse que ia no banheiro e eu fiquei esperando. Esperei dez minutos, 20, 30… Quando deu 40, eu entendi que ele tinha me deixado lá.”
Bruna, então, decidiu checar se o carro estava onde ele havia estacionado — e não estava. “Depois, tentei mandar mensagem e meu número estava bloqueado. Passaram dois dias e ele me mandou uma mensagem no Whatsapp me pedindo desculpa. Disse que, quando estava indo ao banheiro, viu um primo dele e ficou com medo de ser visto comigo, então foi embora.”
Bruna também conta que nunca foi chamada para jantar ou para tomar um café — convites para o cinema só rolaram mais duas vezes. “Nossas possibilidades de relacionamentos, como mulheres trans, são muito reduzidas, justamente porque os homens têm medo dessa retaliação — que muito provavelmente vai acontecer quando eles forem vistos com uma transexual.”