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De acordo com a OMS%2C a saúde mental feminina é afetada por fatores externos - socioculturais%2C econômicos%2C de infraestrutura ou ambientais.
Banco de imagens/Pixabay

De acordo com a OMS, a saúde mental feminina é afetada por fatores externos – socioculturais, econômicos, de infraestrutura ou ambientais.

A saúde mental da mulher brasileira está sob constante risco, diante das pressões sociais e estéticas a que ela é submetida diariamente. Os transtornos psicológicos que as mulheres desenvolvem com mais frequência são a depressão, a ansiedade, compulsão por comer, anorexia e bulimia – problemas que necessitam de ajuda profissional.

Neste janeiro branco, campanha brasileira iniciada em 2014 para chamar a atenção sobre a saúde mental, o iG Delas reuniu dados que mostram a situação da saúde mental da mulher e conversou com psicólogos para falar sobre os cuidados necessários. Confira na reportagem: De acordo com uma pesquisa feita por Daniel Freeman, psicólogo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, as mulheres têm 40% mais chances do que os homens de sofrer algum transtorno mental. O estudo foi feito a partir da análise de 12 pesquisas epidemiológicas de larga escala realizadas na Europa, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. A pesquisa de Oxford também concluiu que as mulheres têm 75% mais chances de ter sofrido depressão em um período recente do que os homens, e 60% maior para ansiedade. O levantamento apontou ainda que os homens costumam abusar de substâncias químicas 2,5 vezes mais que as mulheres, como uma forma de escape para os problemas. Em entrevista ao jornal The Guardian, o pesquisador afirmou que as mulheres estão mais sujeitas aos transtornos mentais porque elas tendem a sofrer mais do que ele chamou de “problemas internos”. “Elas pegam os problemas para si, enquanto os homens tendem a externalizar e os transferem para coisas de seus ambientes, como o álcool e a raiva”, disse Freeman. Contudo, de acordo com o IBGE, o consumo de álcool vem subindo principalmente entre as mulheres no Brasil. Segundo a instituição, 17% das mulheres adultas afirmam ter bebido uma vez ou mais por semana em 2019, índice 4,1 pontos percentuais maior que em 2013 (12,9%). Esse dado foi responsável por puxar o consumo de álcool no país para cima, já que entre os homens houve uma elevação de apenas 1 ponto percentual. De acordo com a psicóloga Suenne Valadares, que trabalha com métodos da psicanálise, os transtornos mentais podem ser provocados por diversos fatores, entre eles os socioculturais. “A ideia de uma mulher puxa a ideia de alguém cuidadora, que puxa a ideia de uma mãe e se funde com uma idealização, quase de uma nossa senhora. Todos os imperativos que a gente tem em relação ao corpo, de ter que ser magra, malhada, e se vestir de determinada forma… Isso termina repercutindo nos tipos de adoecimento”, afirma. Para ela, algo que pode fazer as mulheres adoecerem psicologicamente de alguns transtornos com maior frequência é a auto cobrança feminina, para dar conta de tudo o que a sociedade espera de uma mulher. “Considerando a realidade de múltiplas funções que a mulher exerce, não tem como dar conta de tudo, não dá para ser Mulher Maravilha. E muitas mulheres tentam, de fato, dar conta de tudo. Mas nenhuma idealização vai poder dar conta da vida real”, afirma Suenne. Para o pesquisador Daniel Freeman, a impossibilidade de dar conta de tudo leva a uma baixa autoestima. “As mulheres tendem a se ver mais negativamente do que os homens, e isso é um fator de vulnerabilidade para muitos problemas de saúde mental”, diz. A propensão aos distúrbios mentais nas mulheres tem início já na infância. De acordo com um levantamento realizado pela Secretaria de Saúde de São Paulo, 77% das adolescentes do estado podem desenvolver distúrbios alimentares como anorexia, bulimia e compulsão por comer. O estudo, feito por profissionais da Casa do Adolescente, envolveu 150 pacientes de 10 a 24 anos que foram atendidas no ambulatório de Ginecologia do Hospital das Clínicas e do hospital estadual Pérola Byington. Dentre elas, 39% estavam acima do peso; 85% disseram acreditar que existe um padrão de beleza imposto pela sociedade; 46% afirmaram que mulheres magras são mais felizes; e 55% adorariam simplesmente acordar magras. Em um balanço de 2014 divulgado pela Secretaria de Saúde, a cada dois dias, em média, uma garota era internada por anorexia ou bulimia nos hospitais que atendem pelo SUS em São Paulo. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) – que afirma que a saúde mental feminina é afetada por seu contexto de vida e por fatores externos socioculturais, econômicos, de infraestrutura ou ambientais – a transformação desses fatores seria o ideal para uma prevenção primária dos adoecimentos psicológicos das mulheres. De acordo com Suenne Valadares, todas as mulheres, em algum momento da vida, vão lidar com essas pressões socioculturais. A forma como elas vão reagir, se vão ter apoio ou não, é que vai determinar se vão passar por cima das dificuldades ou entrar em um processo de adoecimento. “Se elas vão quebrar ou não com paradigmas é outra história”, diz.

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“Os papeis desempenhados socialmente e designados pela cultura são extremamente geradores de sofrimento e, muitas vezes, de abusos também”, afirma Suenne Valadares.

Buscando ajuda De acordo com Suenne Valadares, o adoecimento psicológico pode dar diversos sinais. Cada mulher pode responder a ele de uma forma diferente. Por isso, é importante ficar atenta a acontecimentos que se repetem com frequência, provocando mal-estar e desconforto psicossocial. Apesar disso, alguns sintomas físicos podem surgir apontando para questões psicológicas. “Se alguém tem dores de cabeça, enxaquecas constantes, foi para neurologista e outros médicos, usou remédios e nada dá certo… Ou manchas roxas pelo corpo sem explicação, pesadelos, se está tendo relacionamentos que não são legais. Tudo isso deve chamar a atenção. Algumas pessoas vão comprar e outras vão comer compulsivamente. A forma como aparece para cada uma é algo muito particular. Mas a gente sempre sabe quando está precisando de ajuda”, afirma Suenne. A psicóloga ainda alerta sobre as diferenças entre tristeza comum e patológica. “Os papeis desempenhados socialmente e designados pela cultura são extremamente geradores de sofrimento para as mulheres e, muitas vezes, de abusos também. Mas é importante entender que o sofrimento não é sinônimo de adoecimento. Porque o sofrimento é inerente, faz parte da vida, é importante perceber quando o que se vive é realmente patológico”, diz. Para as pessoas que convivem com mulheres que podem estar sofrendo psicologicamente, a psicóloga aponta para a atenção ao distanciamento. “Quando alguém se priva de conversar, de viver, do convívio, nem que seja virtual nesse contexto de pandemia, alguém que desaparece, alguém em que você não vê mais o brilho pelos prazeres da vida, alguém que está com dificuldade de dormir, está na hora de indicar ajuda profissional”, afirma.

Fonte: IG Mulher

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