Já ouviu falar dela? Maria Callas (1923-1977) foi uma cantora de ópera, talvez a maior do século 20, que morreu de ataque cardíaco aos 53 anos. Era reverenciada por seu talento nos palcos e o poderoso gogó que tinha. Você pode não ter percebido, mas sua voz está presente até em filmes pop, como “Bohemian Rhapsody”, “Vingadores: Era de Ultron” e “A Dama de Ferro”.
Mas além de sua notável carreira artística, Callas também teve uma vida pessoal de cair o queixo. Um verdadeiro drama teatral recheado de conflitos, loucuras e desilusões que se estendeu de sua infância à vida adulta e só chegou ao fim quando ela deu o último suspiro. Como ela dizia: “mal compreendida, odiada, atacada. O mundo está cheio de injustiças!”.
Comeu o pão que a mãe amassou
Quando nasceu, Callas foi rejeitada pela mãe, que desejava muito ter um menino, e depois maltratada por ela ao longo da infância porque era muito apegada ao pai. Oi? Isso mesmo, a mãe tinha tanto ciúmes da relação dela com o marido, com o qual também não se dava bem, que a atacava de diversas formas, inclusive menosprezando-a em comparação com a irmã.
Callas só atraiu o interesse materno quando deu sinais de que levava jeito para cantar, mas não era o suficiente. Na adolescência, ficou tímida, usava óculos de grau e não era nada vaidosa, o que motivava sua mãe a escorraçá-la ainda mais. Para piorar, a cantora não tinha mais a presença do pai. Se antes eles viviam juntos em Nova York, onde nasceu, após ele pedir o divórcio, sua mãe a arrastou com a irmã para viverem na Grécia, a terra natal da família.
O que era ruim virou um inferno com a Segunda Guerra. Passando apertos em casa, Callas foi obrigada pela mãe a sair com vários soldados nazistas que tinham ocupado Atenas. Só não foi para cama porque era talentosa e eles preferiam pagá-la para ouvir suas apresentações. Callas nunca perdoou a mãe por isso e depois cortou relação com ela, que ainda teve direito a sua herança.
Emagreceu radical e perigosamente
No início da carreira, a autoestima de Callas era muito baixa, o que também a levou a se casar com um homem que considerava mais pai protetor que um marido, seu empresário Giovanni Meneghini, quase 30 anos mais velho e que a consagrou como cantora. Com 100 quilos para 1,73 de altura, porém, ela não se reconhecia no espelho e isso passou a afetar suas aspirações.
A gota d’água que a fez querer emagrecer foi quando ouviu de uma estilista que nada o que vestisse ficaria bom. Depois disso, Callas teria recorrido a uma solução que nunca se deu ao trabalho de negar, de que ingeriu dentro de uma taça de champanhe uma tênia, um parasita intestinal que absorve nutrientes dos alimentos, causa vômitos e diarreias e pode até matar.
Fato é que em dois anos a cantora eliminou quase 40 quilos e conseguiu entrar em todos os vestidos que desejava. De acordo com amigos próximos e sua cunhada Pia Meneghini, ela também testava dietas restritivas para ficar com a silhueta de Audrey Hepburn, a atriz do filme “Bonequinha de Luxo”, se viciou em ginástica e massagens redutoras e, para tentar controlar seus impulsos, aplicava várias injeções na tireoide, uma glândula situada próxima à garganta.
Uma dama em seu caminho
Famosa, rica e magra, Callas atraiu o magnata grego Aristóteles Onassis, também mais velho, mas que ao contrário do seu marido lhe fazia se sentir desejada. Os dois viveram uma paixão intensa e polêmica por quase dez anos, sendo que Callas se divorciou, largou a ópera e abriu mão da cidadania americana para viver com ele como uma autêntica grega.
Ela só não esperava ser avisada pelos jornais que o homem da sua vida a estava traindo e se casaria com Jacqueline Kennedy, viúva “celeb” do presidente americano John F. Kennedy e sua versão oposta: nascida em berço de ouro, sempre esbelta e uma filha querida. Obcecado pelos holofotes, Onassis quis usufruir da fama de Jackie, que prontamente aceitou, afinal ela também se beneficiaria de sua fortuna bilionária e proteção em uma ilha privada.
Quanto a Callas, juntou os próprios cacos e tentou se reinventar. Passado algum tempo, Onassis, arrependido, a procurou. Ela acabou cedendo e o perdoou, só que os dois já não tinham mais tanto tempo juntos. Doente e em processo de separação de Jackie, que fez de tudo para separar os dois amantes, o magnata acabou morrendo. Callas entrou em uma profunda depressão e, dois anos depois, reclusa, teve um infarto. Em 2010, a morte da cantora foi revelada como consequência de uma doença degenerativa que afetou seus músculos, incluindo o coração.
Fontes: Documentários “Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras” e “Callas: A Documentary”; e livros “Orgulhosa Demais, Frágil Demais”, de Alfonso Signorini, “Maria Callas: The Woman Behind the Legend”, de Arianna Stassinopoulos, e “Maria Callas: Diaries of a Friendship”, de Robert Sutherland.