A modelo Lua Alice Falcão viralizou nas edes sociais após estrelar uma campanha da Pynappel. Muitas pessoas comemoraram o fato de ser uma modelo trans usando o produto e ocupando um espaço que geralmente destinado apenas a pessoas cisgênero. Em entrevista à revista Glamour, a modelo contou que recebeu o convite após chamar a atenção da marca para o fato de que eles nunca escolheram uma modelo trans para usar as peças. Porém, ela conta que esse foi um caso único em sua trajetória e que o mundo da moda não é tão aberto assim.
“Quando eu passava por casting, mandava o material, chegava lá e as possibilidades eram reduzidas quando descobriam que eu era uma pessoa trans. Isso é horrível. Muitas vezes, me encaixava no perfil daquele trabalho, só que quando viam que era trans, era excluída. Sempre foi muito complicado”, contou Lua.
A modelo também disse que quando era chamada para algum trabalho as marcas diziam que estavam fazendo isso para dar visibilidade à causa trans, por isso não iriam pagá-la. “Já é complicada a vivência de uma pessoa trans no Brasil, onde as portas de trabalho são fechadas, e quando querem abrir as portas não querem pagar pelo trabalho. Sendo que você é tão capaz de entregá-lo tão incrível ou até mais que a outra pessoa cisgênero”, comenta.
Vida pessoal
Ainda em entrevista à Glamour, Lua contou que começou a se entender trans quando ainda era adolescente. Porém, naquela época, ela ouvia das pessoas que isso era apenas uma fase e também escutava alertas sobre a realidade das mulheres trans e travestis no Brasil, o que a deixava com medo.
Aos 19 anos, Lua percebeu que não era mais capaz de viver daquela maneira. Ela entrou em depressão e não se sentia bem consigo mesma. “Uma rejeição ao toque. Não me sentia confortável. Tinha que passar por esse processo. Quando vi que não ia sobreviver, busquei forças de onde não imaginava e fui, sozinha, enfrentando o mundo”, relembra.
A modelo disse que o processo de transição foi difícil. Ela diz ter cortado relações com pessoas que gostava muito e perdido oportunidades de emprego somente por ser trans, mas nada disso importava. “Vejo que valeu muito a pena. Não me arrependo. Tenho muito amor por quem eu sou, tenho muita gana para ser que eu sou, muita força. Não é fácil, nada é fácil. Todos os dias, tenho que travar batalhas gigantescas. Seja caminhar na rua, seja para conseguir emprego, seja no meio de trabalho na moda. É muita guerra, é muita luta”, fala.