Para o futuro da pandemia, nem direita e nem esquerda: o que os dados nos mostram?
Por Maycon Bento – Administrador
Após um ano de pandemia do COVID-19, a situação caótica da saúde demonstra que tanto a esquerda quanto a direita estavam errados. Do lado da direita, o discurso sempre variou bastante ao longo da pandemia. Houve discurso de que o vírus era falso, depois que era apenas uma “gripezinha”, até ao ponto de defender que seria necessária uma contaminação geral para se criar o “efeito rebanho”. Do lado da esquerda, o discurso sempre foi alarmista, defendendo o lockdown, a parada do comercio e sugerindo que o governo oferecesse compensações financeiras à população. Ou seja, visões diferentes, por vezes conflitantes e políticas, para a solução de um mesmo e complexo problema. Todavia, no panorama atual que estamos vivendo, aparentemente nenhuma das soluções propostas apresentaram resultados satisfatórios. Na realidade, independente do modelo propostos, todo o país vive um colapso do sistema de saúde.
Contradizendo o defendido pelo pensamento de direita, a ideia do “efeito rebanho” imediato proposto no início da pandemia causaria o que estamos vivendo agora: falta de leitos e pessoas morrendo nas filas dos hospitais ou em casa. Portanto, o modelo apenas aceleraria o processo, mas certamente não o resolveria.
Em relação ao modelo proposto pela esquerda, de nada adiantou as medidas restritivas sem o trabalho paralelo de aumento da capacidade de atendimento dos hospitais. Ao que parece, o lockdown do início da pandemia, como medida para suavizar a curva de demanda dos leitos hospitalares apenas prorrogou o início do caos atual.
Em relação ao nosso município de Lagoa da Prata/MG. Ao longo desse um ano de pandemia, passando por duas gestões municipais, o munícipio adotou, aparentemente, um modelo híbrido e confuso. Ora com lockdown ora com afrouxamento das restrições, porém em ambas as situações pouco foi feito em relação ao aumento da capacidade de atendimento do sistema de saúde municipal, o qual já era deficitário antes mesmo da pandemia. Os dados apresentados pela secretaria de saúde demonstram a situação caótica e alarmante do município.
Apesar dos problemas relacionados às políticas públicas na tratativa do problema, a população tem grande influência nos números alarmantes do município. Todos finais de semana são publicadas matérias pela imprensa local de festas clandestinas e aglomerações no centro da cidade. O nosso munício representa uma amostragem da falta de maturidade dos brasileiros no tratamento de assuntos sérios. Hoje, basta andar pelas ruas da cidade para perceber que aparentemente, para os cidadãos, a pandemia está acontecendo apenas do trevo pra lá.
Até a data de 22/03/2021 (totalizando aproximadamente 370 dias de pandemia), o total de casos confirmado era 2.843 e o número total de óbitos era 46. Segue abaixo dois gráficos representativos dos dados acumulados de casos confirmados e óbitos com o passar dos dias da pandemia até a data de 22/03/2021:
Por meio de uma análise estatística, utilizando os dados oficiais do munícipio e considerando a situação atual (demanda de leitos hospitalares maior que a capacidade do sistema saúde e o baixo número vacinados) as previsões não são boas.
Aplicando a análise de regressão polinomial com os dados históricos, tem-se na cor laranja nos gráficos a previsão para os próximos três meses (até dia 23/06/2021) dos números de casos confirmados e óbitos:
O número acumulado de casos positivos previsto para o final dos próximos três meses, conforme apresentado pelo gráfico, será em torno de 6.543. Ou seja, no período previsto, o número de novos infectados será 3.700 a mais do que o número total até 22/03/2021 (2.843). O dado é impressionante, pois o número previsto para os próximos 90 dias é maior do que o número total da pandemia até a data base da análise (22/03/2021).
Afim de analisar a assertividade da previsão para o número de casos, até o dia 01/04/2021 a previsão era um total acumulado de 2.998 casos. O número real publicado pela secretaria de saúde do município confirmou 3.362. Apesar da proximidade dos números reais e previstos, o número real está superior (364 a mais) ao previsto. Se a tendência se mantiver, o número real acumulado para o próximo trimestre pode ser superior aos 6.543 previstos.
Em relação a previsão do número total de óbitos ao final dos próximos três meses, conforme apresentado pelo gráfico, será em torno de 97, ou seja, no período previsto o número de óbitos será 51, a mais do que o número de 46 óbitos até 22/03/2021. O dado também é alarmante, pois o número de óbitos previsto para os próximos 90 dias é maior do que o número total da pandemia até a data base da análise (22/03/2021)
Afim de analisar a assertividade da previsão para o número acumulado de óbitos, até o dia 01/04/2021 a previsão era um total acumulado de 48 óbitos. O número real publicado pela secretaria de saúde do município confirmou 56 óbitos. Apesar da proximidade dos números reais e previstos, o número real está superior (8 a mais) ao previsto. Se a tendência se mantiver, o número real acumulado de óbitos pode ser superior aos 97 previstos para os próximos trimestre.
O que fazer para reduzir os números previstos?
Primeiramente, ninguém tem uma bola de cristal para saber o futuro. Os dados apresentados são uma análise estatística, o que significa que os números reais futuros podem ser bem diferentes, tanto para mais quanto para menos, dos dados previstos apresentados. Fica registrada essa ressalva.
Certamente, essa é uma pergunta que vale um milhão. Aparentemente, existem duas formas de lidar com o problema. A primeira forma é aumentando a capacidade de atendimento hospitalar. A criação de novos leitos é a garantia de amenização das causas do não atendimento básico de saúde. Portanto, tanto as unidades de internação como de terapia intensiva precisam ser o foco do direcionamento de recursos financeiros. Porém, de toda forma essa medida é paliativa, pois não impacta na redução da capacidade de contágio do vírus. Diante disso, a segunda forma e a mais eficaz seria a vacinação em massa da população. A redução do poder de contágio do vírus reduzindo o campo de proliferação é a arma mais eficaz atualmente.
A nível municipal em relação a vacinação, o que poderia fazer está sendo feito, a participação de consórcios de compra de vacinas e a pressão sobre o governo estadual e federal são as únicas ferramentas disponíveis. O que nos resta agora é o cuidado individual e a esperança de dias melhores.