O Dia das Mães de Caroline Noronha, 38 anos, será atípico. Diferente dos últimos anos, ela não vai comemorar a data ao lado dos filhos, mas, sim, no hospital de campanha do Pacaembu, em São Paulo, onde atende pacientes diagnosticados com Covid-19. Hoje (10) a fisioterapeuta completa 57 dias longe dos filhos Pedro, 13 anos, e Ana Bela, 9. “Eu sei que meus filhos precisam de mim, mas eles são dois. Existem milhares de pessoas precisando do meu trabalho”, fala ao Delas.
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Na linha de frente do combate à Covid-19 , Caroline se dedica a garantir o conforto respiratório dos 80 pacientes que atende praticamente todos os dias. Em entrevista, ela conta com orgulho do trabalho que faz, mas deixa as lágrimas escaparem ao lembrar dos filhos. Ela diz que escolheu trabalhar em mais de um hospital (Pacaembu e Hospital SBC) para ajudar “passar o tempo” e não pensar tanto na saudade que sente das crianças.
“A saudade dói mais que as marcas no rosto. Eu faço uma compressa, passo uma pomada, durmo e as marcas passam, mas eu acordo e eles não estão em casa. Antes eu abria a porta e sabia que pelo menos eles estavam dormindo, hoje não”, desabafa.
Para garantir a saúde dos filhos nesse período, Pedro e Ana Bela estão na casa dos avós no interior do estado e sem previsão de volta. Enquanto a mãe trabalhar nos hospitais, eles ficarão isolados.
A saída para driblar a saudade é recorrer às chamadas de vídeo após os plantões de 12h e nos dias de folga, mas ainda não é o suficiente. “É uma solidão e saudade que não estou acostumada. Eu olho a casa vazia e choro”.
E a dificuldade em lidar com tudo isso também afeta os filhos, que estão aprendendo a se entender com os sentimentos novos. “Um dos piores momentos para mim foi quando o Pedro ligou de madrugada chorando de saudade, dizendo que queria a vida de volta”, lembra.
Ao ser questionada se chegou a se arrepender ou pensar em desistir para reencontrar os filhos, Caroline é enfática: “Não, em momento nenhum”, reforçando a importância do trabalho que faz.
“É difícil e eu vivo chorando, mas sei que as pessoas precisam de mim. Ser forte é complicado, mas vou ajudar o próximo o máximo que puder”, completa.
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Mães na linha de frente e o preconceito
Embora faça questão de se mostrar forte, a fisioterapeuta reconhece as dificuldades que ela e as colegas enfrentam. Assim como ela, médicas, enfermeiras e outras profissionais da saúde estão longe dos filhos e da família e encaram o isolamento sozinhas. “Tenho certeza que todas nós gostaríamos de estar isoladas acompanhando a tarefa da escola e a bagunça deles, mas abrimos mão disso para entrar nesse combate”, diz.
“Nós vemos pessoas se curando, gente que infelizmente o nosso esforço não deu certo, paciente que vai embora e não sabemos o final, gente pedindo para não morrer, gente agradecendo, gente chorando de saudade. É difícil, muito difícil”, continua.
Além da dura realidade nos hospitais e do peso do isolamento, Caroline conta que ainda lida com o preconceito nas ruas. “Eu já sofri preconceito por ser da área da saúde, mesmo me sentindo mais segura dentro do hospital. As pessoas batem palma na sacada, mas não entram com você no elevador. Dizem que tem orgulho do seu trabalho, mas falam ‘fica longe dela’”, desabafa.
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Neste Dia das Mães, ela pede responsabilidade afetiva, emocional e respeito aos profissionais da saúde e pacientes. “Nós não somos números, nós somos pessoas. Os pacientes têm nome e tem família. Todo mundo tem uma história. E eu também”.