Nas últimas semanas, uma imagem deu o que falar na Internet: a foto tirada em um supermercado em Los Angeles, nos Estados Unidos, que mostra uma dominatrix levando seu submisso para passear numa coleira. O rapaz estava de quatro e usava uma máscara de cachorro e os dois andavam tranquilamente dentro do mercadinho.
As pessoas não entenderam muito bem o que estava acontecendo, até chegar o momento do segurança pedir para que os dois saíssem. Os presentes acharam que a atitude fosse uma falta de respeito. “Eles disseram ‘Nós respeitamos o que você está tentando fazer, mas vamos ter que te pedir para sair’. Fazer isso em público é obviamente controverso”, disse Mistress Larke, a mulher da foto, em entrevista ao tablóide estadunidense The Daily Pot.
Os dois estavam praticando o Pet Play, uma variação do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). E sta prática gira em torno de hierarquia, comando, submissão e obediência. Também por serem usados artigos específicos para “adestrar” cada animal imitado (coleiras, correntes, chicotes, mordaças).
Marcos Santos, Psicólogo Especialista em Sexualidade Humana da Plataforma Sexo sem Dúvida , explicou em entrevista ao IG Delas, um pouco mais sobre a prática. Veja a seguir.
O que é o Pet Play?
Pet Play é uma brincadeira que pode ser sexual ou não. É um fetiche que costuma ser praticado entre casais. É uma encenação em que as pessoas envolvidas desempenham papéis diferentes. Uma faz de conta que é um animal (pet) e a outra pessoa desempenha o papel de treinador ou de dono.
“Durante essa brincadeira, a pessoa pet imita literalmente o comportamento de um filhote ou animal adulto, enquanto que o treinador ou o dono do animal ensina truques, elogia e recompensa bons comportamentos ou pune seus erros e maus comportamentos”, acrescenta o especialista.
De acordo com o desejo dos participantes, a intensidade pode variar de um simples carinho em troca de lambidas, à humilhação e palmadas corretivas. Nessa prática, a pessoa submissa é transformada em animal para obedecer a um dominador.
“É importante lembrar que o intuito da brincadeira não é a humilhação e que o fetiche possui várias interpretações e aplicações. Existem pessoas que gostam de ser humilhadas nas brincadeiras sexuais, mas essa não é a intenção principal do pet play”, explica.
O foco principal da brincadeira é justamente ensinar truques e disciplina para um animalzinho, sem envolver necessariamente maus tratos. O segredo para a brincadeira dar certo é o incentivo positivo do treinador e as recompensas pelo bom comportamento do pet.
Como praticar o Pet Play?
Adeptos do Pet Play se comportam assim entre quatro paredes e algumas vezes em público frequentando festas fetichistas e bares temáticos. “Nestes locais os donos e adestradores podem até servir petiscos no chão.”
A caracterização dos pets vai além das fantasias e maquiagem, incluindo acessórios encontrados em petshops (coleiras, guias, correntes) ou artigos de sex shops como os chamados plug tails (caudas ou rabos), em diversos materiais e formatos.
Varia também a intensidade da prática. Dentro do pet play existem as práticas mais brandas, como um simples “abanar o rabinho”, pegar coisas com a boca e fazer carícias no(a) parceiro(a). Há também as mais intensas, que derivam do sadismo e masoquismo e envolvem palmadas ou castigos mais severos.
Mas, assim, assim como vários outros fetiches, o pet play não precisa ter um contexto erótico. Se na maioria das vezes se trata de algo sexual, em outros casos a brincadeira pode ser apenas uma atividade muito divertida quando as pessoas assumem os papeis escolhidos e mergulham de cabeça na interpretação.
“É uma oportunidade de tirarem uma folga de suas vidas comuns. Permite também a inversão de papel assumido para a sociedade, algo muito comum das pessoas em posição social de liderança e autoridade se submeterem aos comandos de alguém durante a brincadeira (homens cachorrões com suas donas)”, diz o especialista.
Ele acrescenta que isso significa tirar o peso e estresse em ser alguém preso a uma rotina, virando durante alguns momentos um bichinho inocente e brincalhão. “Ou simplesmente deixar seus medos e fraquezas de lado para ser um animal selvagem e cheio de vida”, encerra.