Nesta terça-feira (17), a Avon Brasil divulgou uma pesquisa feita com mil mulheres negras e pardas brasileiras para identificar a relação delas com a indústria de maquiagem no Brasil. Os dados apontam que 70%, a maioria delas, não estão satisfeitas com os produtos voltados para pele negra disponíveis atualmente no mercado nacional.
A insatisfação se dá pela pouca acessibilidade e pela falta de produtos disponíveis que abrangem a diversidade de tons de pele negra. Produtos disponíveis, segundo a pesquisa, podem causar manchas na roupa ou alterar o aspecto da pele, deixando-a acinzentada ou alaranjada.
O levantamento foi apresentado no evento on-line de lançamento da campanha “Essa é Minha Cor” pela porta-voz e coordenadora de planejamento de comunicação da Avon, Carolina Gomes, e pela pesquisadora Winnie Bueno, que escreveu o prefácio da pesquisa. O evento contou com apresentação da ex-BBB Thelma Assis .
Para avaliar a relação de mulheres negras e pardas com a maquiagem, a empresa pesquisou a jornada de compra das mulheres e o comportamento delas ao longo desse processo.
Das entrevistadas, 46% das mulheres desistem de comprar maquiagem após não encontrar os tons e subtons de base para sua pele (que podem variar entre amarelo, vermelho e azul). Quase 80% afirmam que não sabem reconhecer seu subtom. Além disso, 61% delas buscam por acabamentos e fórmulas multifuncionais que não estão acessíveis.
Com a falta desses produtos em solo nacional, 82% acabam recorrendo à indústria internacional e afirmam que existem produtos mais interessantes e de melhor qualidade em outros países, além de oferecerem uma gama maior de tons de pele.
Cerca de 95% das mulheres afirmam que sentem falta de informações no momento de comprar sua maquiagem . 77% das mulheres negras e pardas sentem que as pessoas atendentes não possuem o conhecimento sobre tom de pele negra para ajudar na compra dos produtos.
Com a falta de produtos disponíveis, 57% das mulheres negras e pardas tomaram para si o papel das empresas e passaram a misturar tons de base para pele branca para encontrar um tom próximo do correto para elas. “Temos um mercado em que a maioria da população brasileira não encontra o básico, que é uma base, enquanto mulheres brancas têm multiplicidade de produtos à sua disposição”, analisa Winnie no evento.
“Quando a gente encontra uma base do nosso tom, a gente comemora. Isso porque não tem produto adequado para as brasileiras”, continua.
A autora segue afirmando que a representatividade e a presença de mulheres negras e pardas no catálogo é importante, mas que ainda é necessário expandir a gama de produtos para que seja acessível a todas as mulheres e consolidar esse discurso.
A empresa aproveitou o evento para firmar um compromisso antirracista, em que se compromete a empregar mais pessoas negras e a ter, até 2030, 30% de sua equipe de liderança composta por mulheres negras e pardas. Além disso, a empresa se propõe a aumentar a diversidade cromática em seus produtos e torná-los acessíveis para todas as mulheres.
Para isso, a marca está trabalhando ao lado de Daniele DaMata, idealizadora da DaMata Makeup, para desenvolver bases, bases compactas e corretivos que sejam adequados para os tons e subtons de mulheres negras e pardas.
“A Avon se propõe a revisitar sua própria história e se responsabilizar pela mudança em seu campo de atuação. Hoje, inauguramos um novo movimento em cada canto do Brasil para mulheres de todas as cores. Estamos apresentando uma transformação que vai além dos produtos, mas que mudará a Avon de dentro para fora “, diz Carolina.
Winnie complementa que a beleza negra não deve ser tratada como um nicho de mercado, já que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o Brasil é o país que mais tem pessoas negras fora da África, sendo 56% das pessoas consideradas pretas ou pardas.
“A proposta é mostrar que a beleza da mulher negra brasileira nunca foi considerada um padrão, porque são historicamente articuladas a partir da lógica de beleza branca, europeia, centrada em representações estereotipadas e que, muitas vezes, desestimulam a autoestima de mulheres negras”, afirma a pesquisadora.
Além disso, Winnie conclui que indústria da beleza precisa, mais do que reparar o que diz, reparar o que ela faz e mostrar a postura inclusiva na prática.
No evento também estiveram presentes Zezé Motta, Cris Viana, Ana Paula Xongani, Magá Moura e a cantora Larissa Luz para comentar o impacto da falta de maquiagens na autoestima de mulheres negras e pardas . Ludmilla apareceu remotamente e fez um pocket show.