Ter um relacionamento amoroso saudável envolve muito diálogo, compreensão e até algumas regras. No caso de relacionamentos abertos e não-monogâmicos , as coisas não são nem um pouco diferentes, inclusive, talvez a comunicação constante e direta seja ainda mais essencial.
“Regras claras! Poderíamos sair com as pessoas, transar, mas sem envolvimento romântico”, conta Breno*, sobre a primeira vez que decidiu experimentar a não monogamia em seu então casamento. Segundo ele, não foi o típico caso de relacionamento em crise, mas o rapaz assume que a relação já não estava em seus melhores momentos.
A iniciativa veio dele mesmo, que flertava com esse modelo de relacionamento há algum tempo, e sua esposa, Andréia, decidiu entrar nessa jornada de exploração junto com o companheiro. Logo que ela aceitou, veio mais uma regra. “Era necessário que a gente compartilhasse com quem a gente ia sair. Detalhes, só se a gente quisesse dizer. Por que isso? Pra evitar de eu ou ela sairmos com alguém que a gente tinha ciúmes ou algo assim”, complementa.
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Decisão feita, regras definidas, estava na hora de partir para a prática. Breno logo de cara marcou de ir a alguns encontros e, um dia, Andréia perguntou se poderia sair com um amigo dele. “Primeiro eu disse que ela não precisava me pedir nada, depois afirmei que, por mim, estava tudo ótimo, o cara era muito gente boa e uma pessoa que eu confiava”, conta o rapaz.
O encontro aconteceu e Andréia voltou radiante e cheia de energia no dia seguinte. O sentimento que essa situação aflorou em Breno pode ter sido a primeira incógnita que geraria mudanças depois de um tempo. “Eu fiquei feliz demais que ela tinha saído, dançado, transado e se sentido desejada como a gente já não se sentia 100% mais”, assume. Segundo Breno, ali ele começou a perceber que a “vertente” deles talvez fosse diferente.
“Vocês são irresponsáveis”
Mas a vida foi seguindo e, apesar de tudo, o modelo parecia funcionar bem para ambos, ele também continuou saindo com algumas pessoas e a Andréia lidava bem com isso. Até que um dia, o amigo com quem Andréia havia saído chamou Breno para conversar. Como eles eram amigos, não foi nada muito fora do comum.
Breno foi conversar com o amigo, que estava “claramente alterado”. Ele falou: ‘Você é um irresponsável. Aliás, você e a Andréia são irresponsáveis. Vocês combinaram entre si de sair com outras pessoas, de não se apaixonarem, mas e eu? E se eu me apaixonar, vocês pensaram nisso? Porque agora eu tô apaixonado e tô aqui, tendo que me afastar de você, sendo que te adoro, e dela, para não sofrer”, relata Breno, que ficou sem o que responder na hora, porque, na verdade, concordava com o amigo.
Nesse dia, Breno e Andréia conversaram sobre toda a situação, cogitaram a possibilidade de Andréia namorar o amigo enquanto era casada — o que Breno estava descobrindo, por meio de estudos e leituras, que era uma opção válida dentro da não-monogamia –, mas a moça preferiu que não. No fim, o relacionamento entre Andréia e o rapaz terminou, Andréia ficou triste e o rapaz se afastou de vez do casal, o que piorou ainda mais a situação para todos.
Nova perspectiva
A conversa, porém, abriu os olhos dos dois para algumas outras questões, fez com que eles reconhecessem outros planos, metas de vida e entendessem que já não estavam mais na mesma página, por isso, após alguns meses, decidiram terminar o casamento, se mudaram e cada um foi em busca do que queria.
Depois de alguns meses, Andréia, de quem Breno continuou muito amigo, o chamou para tomar um café. “Nesse café ela me disse que queria voltar a falar com o cara. Que gostou muito de ter saído com ele e queria tentar de novo. Eu disse que tudo bem e ela pediu pra eu falar com ele, já que eu havia os apresentado. Para ela importava bastante que tudo ficasse bem entre nós”, diz.
Breno conversou com o amigo, que no começo ficou bem receoso, preso no pensamento “mas ela é sua ex…”, mas, aos poucos, todos foram se reaproximando e Andréia engatou em um relacionamento monogâmico com o rapaz. Hoje, Andréia e o amigo moram juntos e têm um bebêzinho. Breno está em um relacionamento não-monogâmico, que, segundo o próprio, é difícil definir, mas muito feliz. Todos se dão bem, moram no mesmo bairro e estão sempre juntos.
A moral da história? Segundo Breno: “Como eu aprendi que responsabilidade emocional vai além do casal, como eu apresentei o futuro marido da minha esposa e como eu confundi a cabeça de mil pessoas que ainda hoje dizem que eu sou trouxa porque ela me trocou por ele”.
*os nomes usados na matéria foram trocados para preservar a identidade das partes