Termina hoje a CCXP Worlds , maior evento de cultura nerd da América Latina. Entre os milhares de fãs que acompanharam a programação – realizada 100% on-line por conta da pandemia – estava a influenciadora digital Bruna Rosa , 26 anos, que costuma postar conteúdos relacionados ao universo geek em sua conta no Instagram, ao lado de postagens sobre moda e beleza.
Bruna, que é fã da personagem de anime Sailor Moon – uma guerreira mágica destinada a salvar o mundo – conversou com o iG Delas sobre como é a presença das mulheres no meio nerd, cujos ambientes virtuais e presenciais costumam ser predominantemente masculinos. Confira a entrevista a seguir.
“Se você respira, você sofre algum tipo de machismo na cultura geek. Estamos em 2020 é ainda têm gente que espera que as mulheres só podem jogar ou assistir algo que seja coisas ‘de mulherzinha’. Por exemplo, eu posso gostar de Sailor Moon, que é um anime mais bonitinho e eu não posso gostar de uma coisa mais diferente”, diz.
Os fiscais da cultura nerd
Bruna conta que por ser mulher e gostar de cultura nerd, ela sofre com o machismo na área, pois acham que ela não pode fazer maquiagens inspiradas nos personagens que mais gosta, como os cavaleiros do zodíaco, os personagens dos quadrinhos da DC e até mesmo da Sailor Moon.
“Eu me proponho a fazer um conteúdo baseado em alguma coisa eu estou mostrando para quem conhece e não conhece. Na hora de explicar, surge um homem do além e fica questionando e falando ‘Não pode misturar coisas de blogueira com o meu personagem, porque nao tem nada a ver’”, conta.
A influenciadora diz que esse tipo de cobrança ou preconceito relacionado às mulheres no universo geek não acontece apenas nos ambientes virtuais. Ela recorda que há alguns anos, estava em uma loja, olhando as coisas casualmente, quando um homem se aproximou e começou a fazer perguntas muito específicas do jogo Assassin’s Creed, por causa de um tatuagem que ela possui.
“Eu não estava entendendo o porquê daquilo, eu nem lembrei da tatuagem, só fiquei sem entender. Ele viu que estava sendo machista e tentou mudar de assunto, pois estava bem constrangido”, lembra.
Bruna conta que passou por outro episódio constrangedor quando trabalhou em um evento de cultura pop e geek. Na hora de dar o direcionamentos, o supervisor da equipe explicava as tarefas apenas pra ela, sem como se o outro funcionário (homem) não precisasse de explicações.
“No primeiro momento eu fiquei “‘não, ele não tá fazendo isso, ele não está achando que eu não sei’. Em nenhum momento ele virou para o homem e falou explicando, era diretamente pra mim, ele fez mansplaining, é bizarro pensar que em um primeiro momento eu duvidei que ele tivesse fazendo isso, que eu tivesse vendo coisas que não existem”, explicou.
Gordofobia com as cosplayers
Em suas redes sociais, Bruna expressa seu gosto pela a cultura nerd por meio de seus looks e maquiagens. Esse ano ela começou a fazer cosplay, a representação de personagem a caráter. “No halloween, eu quis fazer uma coisa diferente, e fiz o meu primeiro cosplay. Não sofri hate, pois nessa data, parece que tem licença poética pra isso, minhas seguidoras gostaram bastante.”
Porém, Bruna já viu diversas cosplayers sofrendo com comentários racistas ou gordofóbicos de usuários da Internet. “Elas recebem vários comentários maldosos falando que elas não estavam iguais aos personagens, ou mandando elas emagreceram, são coisas horríveis que você lê e fica mal. Eu não sofro tanto por ser fora do padrão, mas quanto mais a pessoa sai do padrão, mais ela sofre. Não duvido se um dia for fazer um cosplay da princesa Leia acorrentada, por exemplo, pode ser que apareça alguém falando algo maldoso.”
Não só as cosplayers fora do padrão passam por isso. Quando a atriz Anna Diop, que é negra, foi escalada para interpretar a personagem Estelar, na série dos Jovens Titãs, ela sofreu muito hate. Alguns dos fãs disseram que ela não parecia com a personagem real da animação, que no caso, é laranja.
“Eu não acho que a cultura nerd é machista, eu tenho certeza. Eles tentam separar as coisas de ‘meninos’ das de ‘meninas’, menina tem que brincar de casinha e boneca. Uma coisa que eu percebo é que grandes canais, apresentadores de eventos são em sua maioria homens e precisamos mudar isso”, encerra.