A indústria da moda é uma das mais poluentes que existem no mundo. Segundo dados de 2020 da ONU Meio Ambiente, é o segundo setor a consumir mais água e emite cerca de 8% a 10% de gases estufa no planeta. Além disso, a indústria descarta 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos anualmente.
Em meio a esse cenário mundial, a engenheira Priscila Cotrim e a jornalista Maristela Alcântara, amigas de longa data, decidiram se unir para repensar a maneira de se pensar e consumir vestuário. Surge assim a Maristar , uma loja virtual de aluguel de roupas baseada no conceito de guarda-roupa coletivo, ou guarda-roupa infinito.
“Esse é um conceito muito novo que consiste em incentivar as pessoas a manter o mínimo de roupa possível em casa e retirar das clientes a necessidade de sair comprando muitas peças”, explica Cotrim. Para explicar a ideia, Cotrim se baseia em suas próprias experiências, quando passou um bom tempo comprando muitas roupas que não precisava.
Alcântara, por outro lado, afirma que nunca entendeu a compulsão por roupas e compras. “No ano passado, eu passei a ajudar a Pri e outras amigas que passaram por essa fase consumista a despegar das roupas. Criei um Instagram e fui vendendo as peças delas por lá, algumas chegaram a vir com etiqueta”, afirma a jornalista.
As vendas pararam quando Alcântara viu que não tinha mais espaço em casa para colocar as roupas das amigas. Ela compartilhou a ideia de fazer um projeto para fazer um guarda-roupa coletivo para Cotrim, que coincidentemente estava com os mesmos pensamentos.
Por ter muitas roupas, as amigas de Priscila sempre recorrem a ela para pegar roupas emprestadas. Essa experiência vivida na prática foi o que a ajudou a moldar a loja virtual. “As mulheres, que são o nosso público, têm esse problema de sempre se preocupar em ter o que vestir, nunca está satisfeita. Então, o que a gente quer é mostrar que existe uma alternativa possível de usar roupas diferentes sem precisar gastar”, diz Alcântara.
As roupas das amigas de Alcântara se tornaram o acervo inicial para a Maristal, mas elas logo começaram a comprar em outras lojas e em brechós para expandir os estilos e tamanhos. “Tentamos deixar bem abrangente. Temos desde roupas para usar no dia a dia, como shorts jeans e blusas de verão, até roupas mais festivas, como vestidos longos e peças elegantes”, diz Cotrim.
Atualmente, o acervo conta com mais de 500 peças de marcas como Diesel, Zara, Gap, Farm, Burberry e Arezzo. “A gente quer fazer o refinamento das peças para que as pessoas consigam usufruir de modelos que elas querem testar, mas que não comprariam”, acrescenta.
Como funciona um guarda-roupa compartilhado na prática?
Após fazer um cadastro e passar por uma confirmação de dados, a cliente escolhe as peças desejadas e pode fazer uma simulação para saber qual será o valor final e por quanto tempo vai precisar das peças. O site oferece descontos a depender da quantidade de peças pedidas. Após a compra, a pessoa tem até 48 horas para receber o pedido.
Elas acreditam que esse modelo pode ajudar mulheres que tenham necessidades de usar roupas que não vão precisar depois de algum tempo. É o caso de quem vai a eventos, mulheres que têm muitas reuniões formais mas não curtem esse tipo de roupa e até mesmo as gestantes.
“O legal é que a cliente pode experimentar a peça, se não gostar pode escolher outra ou devolver, sem custo algum”, explicam. Alcântara complementa que essa pode ser uma forma de despertar nas pessoas o desejo de possuir armários cada vez mais básicos e que as pessoas escolham complementar o look com as peças disponíveis em lojas como a dela.
Atualmente, as entregas e retiradas só funcionam nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, mas expandir para o Brasil todo é uma ideia que as duas querem colocar em prática. Além disso, elas devem inaugurar um showroom para que as clientes marquem horário e apareçam para selecionar as peças pessoalmente.
No caso de pessoas de outras cidades e estados que queiram experimentar, elas aconselham ir para o Rio de Janeiro de malas vazias. “Traz só o básico e o resto você pega com a gente”, diz Cotrim.
Sustentabilidade e consumo consciente
Cotrim afirma que espera que a moda consiga entrar no modelo de economia circular que acontece atualmente, por exemplo, com os aplicativos de transporte. Para ela, a Maristar tem a missão de incentivar a criação de cultura comportamental e econômica. A engenheira explica que buscam incentivar as pessoas a testarem o modelo.
“Existe preconceito quando a gente fala de usar uma coisa com muitas pessoas. Batem muito na tecla da questão de higiene, mas isso é algo que a gente quer ajudar também: você não precisa lavar ou passar a roupa na hora de devolver. Deixa isso com a gente”, dizem as duas.
Cotrim e Alcântara esperam que as pessoas entendam que o conceito de guarda-roupa infinito também não precisa ter a ver com poder aquisitivo, mas sim com o que importa para a saúde do planeta, além de financeira e mental. “Seria muito bom para que as pessoas vivessem de forma mais minimalista, mais ampla, sempre aproveitando mais os momentos do que as coisas”, diz a jornalista.