Bomba instalada no Velho Chico vai levar 6 milhões de litros de água por dia para a lagoa
Começou nesta quarta-feira, dia 18, uma tentativa de salvar a Lagoa Feia, uma das principais lagoas marginais do rio São Francisco na região, que sofre com a seca e já reduziu sua capacidade normal para menos da metade.
Através de uma bomba instalada no rio, a água será levada para a lagoa diuturnamente até que ela recupere suas características e evite a mortandade de peixes.
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Na terça, 17, o editor do Jornal O Papel conversou com o Técnico Ambiental Carlos Frederico Muchon, que presta assessoria à AAPA (Associação Ambientalista dos Pescadores Amadores do Alto São Francisco), entidade que obteve autorização do Ibama para a intervenção.
Segundo Muchon, a situação da lagoa é alarmante.
“No caso da Lagoa Feia, ela que talvez hoje seja a segunda ou terceira maior lagoa que nós temos em termos de significância, desde Iguatama até Bom Despacho, ela varia de 40 a 100 hectares de lâmina d´água. Não existia nenhum dado histórico, segundo o Ibama, que ela tivesse lâmina d´água inferior a quarenta hectares. Esse ano está com quinze… A profundidade normal, que deveria estar entre dois metros e meio a três metros, na época de seca, está com um metro e quinze no ponto mais fundo. Isso em agosto, quando fizemos a batimetria. Então ela já estava entrando em uma situação crítica”, informou.
“Por ser uma lagoa muito grande, ela tem uma quantidade extremamente significativa de vida aquática, lá se tem peixes de grande porte como surubim e dourado dentro dela… A gente vinha acompanhando essa situação e conversamos com o pessoal do Ibama, que trabalha especificamente com ictiofauna, basicamente cuidam só de lagoas marginais. Enviamos uma série de fotos e comunicamos da ideia que tivemos, mas para colocar em prática seria necessário que eles analisassem a proposta e nos orientassem sobre onde pedir a autorização devida”, explica o técnico.
“A captação de água no rio São Francisco requer outorga da ANA (Agência Nacional das Águas), o que leva em torno de três anos. Qual foi então a fundamentação que nós usamos com o pessoal do Ibama? Explicamos então que a pretensão era colocar uma bomba no São Francisco e lançar a água na lagoa. O intuito não é encher a lagoa, o objetivo é fornecer oxigênio para a população de peixes que está nela. Como está extremamente seco, os peixes começaram a morrer em decorrência da matéria orgânica presente na lagoa, que com o calor e muita luminosidade, pela baixa concentração de água começa a haver um processo de eutrofização, ou seja, a água vai apodrecendo e isso tira o oxigênio da água”, continua.
A ideia é lançar a água do rio dentro da lagoa – o que não representa uso para fins econômicos, e com isso se consegue dois benefícios: a água lançada conta com alta concentração de oxigênio e também resfria a água da lagoa, porque a alga, para proliferar precisa de calor.
“Foi solicitado em nome da AAPA uma licença em caráter emergencial para essa intervenção. No dia 03 de outubro o pessoal do Ibama esteve aqui, foi até o local e eles mesmos foram prontamente favoráveis à ideia”, conta Muchon.
De acordo com o Ibama, essa atividade não demanda outorga, mas precisa de um aval do órgão responsável pelo rio. Dessa forma, o órgão, que é o próprio Ibama, emitiu uma nota técnica permitindo o bombeamento com a finalidade de manter a lagoa viva.
Segundo Muchon, essa nota tem o caráter de parecer definitivo autorizando a intervenção. O documento chegou na semana passada e nesta semana foi montada a estrutura de bombeamento.
A BIOSEV
“Nós entramos em contato com a Biosev, informando sobre a autorização e eles prontamente se disponibilizaram. Toda a montagem e manutenção dos equipamentos ficará por conta e despesa da Biosev”, enfatizou Muchon.
Na terça-feira, as sete horas da manhã, os técnicos da empresa estiveram vistoriando o local e na quarta à tarde o sistema já entrou em funcionamento. A bomba está instalada debaixo da ponte de concreto sobre o rio.
Segundo o gerente agrícola da empresa, Rafael Silveira, o bombeamento irá funcionar durante vinte e quatro horas.
“Quando o Muchon me procurou para falar sobre esse bombeamento da água do São Francisco para a lagoa, nossa preocupação foi com a questão da sustentabilidade e meio ambiente. A situação do rio é de sensibilizar. Essa ação visa a manutenção da lagoa, que é um cartão postal da cidade e tem toda uma fauna estabelecida que a gente precisa zelar. E olhar para o rio, para todo o sistema de uma forma diferente”, explicou à reportagem do Jornal O Papel.
Segundo Rafael, o equipamento instalado vai bombear em torno de 250 metros cúbicos/hora durante 24 horas/dia, algo em torno de 6 mil metros cúbicos/dia (seis milhões de litros). Foram utilizados 850 metros de tubulação de oito polegadas e todo custo com o funcionamento e manutenção do equipamento ficou por conta da Biosev.
“A Biosev tem se preocupado com a preservação de matas ciliares, temos todo um sistema de conservação dos solos nas margens, para evitar erosão, assoreamento do rio, enfim, seremos parceiros em iniciativas como esta”, finalizou.
Todo o processo será acompanhado pela AAPA, que fará medições na profundidade e temperatura da lagoa. Caso se inicie o período de chuvas e não seja mais necessário continuar com a transposição, a bomba será retirada do rio.