RIO — O delegado titular da 22ª DP (Penha), Fabricio Oliveira Pereira, disse neste sábado (01) que já há indícios suficientes para que a empresária e blogueira Lorena Vieira, de 20 anos, mulher do DJ Rennan da Penha, responda pelo crime de falsificação de documento.
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O crime tem pena prevista de dois a seis anos de reclusão e multa. Porém, o indiciamento ou não de Lorena só será decidido ao fim das investigações, que têm prazo de 30 dias para serem concluídas.
Perícias do Instituto Félix Pacheco e do Detran indicaram que o documento de identidade usado pela empresária para sacar dinheiro numa agência do Banco Itaú na Penha na quinta-feira (30) era falso.
A Polícia investiga também a possibilidade de Lorena ter cometido crime de estelionato (Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento), que tem pena de um a cinco anos. Por outro lado, a 22ª DP também está investigando a denúncia feita por Lorena de racismo . Ela acusou funcionários do banco de terem desconfiado do volume de dinheiro em sua conta por ser negra.
Segundo o delegado, Lorena poderia ter sido presa em flagrante na sexta-feira (31), quando esteve na delegacia para registrar queixa de racismo. Porém, as respostas dos órgãos oficiais atestando que o documento apresentado pela empresária era falso só chegaram no fim do dia.
Fabricio Oliveira disse que o Detran informou que não emitiu o documento apresentado e que a foto nele contido não existe em seu sistema. Informou ainda que o número da unidade do Detran que consta do RG apresentado no banco não existe. “Em terceiro lugar, o Instituto Félix Pacheco disse que a digital que aparece na identidade não pertence a ela”, contou o delegado.
Mas lembrou que os dados constantes no documento eram verdadeiros e que, por isso, ela foi liberada em 12 minutos depois de chegar à delegacia.
Neste sábado, Lorena Vieira não quis falar sobre o caso nem o advogado que a acompanhou na delegacia. O delegado disse ainda que não se sabe o motivo do uso de um documento falso com dados verdadeiros.
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“As informações na cédula de identidade estavam corretas, tanto que ela foi liberada”, disse ele. “O fato tomou uma proporção muito grande. Não temos a pretensão de concluir a investigação em um dia. Vamos prosseguir investigando também a denúncia dela de racismo. Estamos tratando o caso com toda a cautela necessária para realmente elucidarmos tudo o que aconteceu. Vamos ouvir funcionários do banco, policiais, agir com todo o cuidado possível para que haja uma apuração rigorosa sobre as acusações”.
Revolta nas redes sociais
A hashtag #ItaúRacista entrou nos assuntos mais comentados do Twitter, com diversas críticas à atitude dos funcionários em mantê-la dentro do estabelecimento até o horário de fechamento para só então, após a chegada de três policiais civis, levá-la para a 22ª DP (Penha).
“Foram me buscar dentro do banco. Não estava entendendo a demora. Me tiraram de lá, falaram que não era eu na identidade, que o dinheiro que estava entrando não era normal. Além do vexame, ficaram fazendo perguntas… Por que não posso ter dinheiro? Por que não posso ganhar dinheiro com cosméticos? Não posso ter dinheiro porque sou mulher de um ex-presidiário?”, disse Lorena.
Rennan, que ficou preso entre abril e novembro de 2019, foi condenado em março a seis anos e oito meses em regime fechado, a partir de evidências como mensagens em redes sociais nas quais avisava moradores do Complexo da Penha de que haveria operação policial.
Artistas de diferentes gêneros se manifestaram contra seu indiciamento, e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou uma nota em que repudiava a determinação de sua prisão e dizia que ela representava uma tentativa de criminalizar a arte popular.
Em um comunicado, o Itaú Unibanco lamentou o episódio ocorrido com Lorena e pediu desculpas pelos transtornos causados na quinta-feira (30) no Rio.
“O Itaú Unibanco esclarece que o procedimento adotado na agência é padrão em casos de suspeita de fraude, e não tem qualquer relação com questões de raça ou gênero. O objetivo era proteger os recursos de Lorena de possível fraude, uma vez que já havia um bloqueio preventivo de sua conta corrente e era difícil identificá-la com o documento apresentado no caixa. O Itaú Unibanco acredita que toda forma de discriminação racial deve ser combatida”, acrescentou.
Lorena rebateu, porém, a resposta do banco.
“Procedimento padrão? Dizer que está resolvendo meu problema, me fazer esperar até depois do horário de fechar o banco. Não me informar o que estava acontecendo, mentir pra me prender lá, não deixar eu sair e chamar a POLÍCIA CIVIL???????”, escreveu em um post. “Isso é procedimento padrão? Não poderia ser de outro jeito? De um jeito mais humano???? Me contar o que vocês estavam pensando sobre mim????? O jeito era simplesmente chamar a polícia civil pra eu ser retirada dali como uma criminosa, humilhada??????? Ah não, agora sim fiquei p*!”, completou.