Boa parte das obras da exposição foi pintada em dois meses, especialmente para o evento no prédio do Judiciário mineiro (Crédito: Cecília Pederzoli)

Exposição do artista lagopratense termina nesta terça, 19, em Belo Horizonte

(Matéria replicada do site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – link da publicação original: https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/exposicao-do-artista-heleno-nunes-no-tjmg-termina-no-dia-19-10.htm#.YWrBUhrMKUk)

Até a próxima terça-feira (19/10), às 17h, a exposição do artista plástico e muralista Heleno Nunes segue aberta à visitação. As telas em estilo expressionista, que representam a busca humana por seus objetivos e conquistas, estão no hall do edifício sede do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), na Avenida Afonso Pena, 4.001, Serra. A maior parte das obras foi pintada ao longo de dois meses, especialmente para a exposição no prédio do Judiciário mineiro.

A exposição mescla retrato, mural e telas com traços inspirados nas histórias em quadrinhos — a primeira paixão do artista — e na arte de muralistas mexicanos, como David Alfaro Siqueiros (1896-1974). A temática livre permitiu a criação de obras que retratam homens e mulheres do campo, a deusa da Justiça — Themis —, Cristo e situações do cotidiano. “No início da carreira, meu alvo era fazer histórias em quadrinhos para jornais. E o personagem que criei já tinha os pés e as mãos grandes, com a cabeça em proporção menor do que o restante do corpo. São os sinais de determinação e garra para correr atrás dos objetivos”, explica Heleno.

Proporções

O artista afirma que gosta de trabalhar com a expressão humana, dando movimento às figuras em composições que não são óbvias ou simples. “Trabalhar com a figura humana e pintar murais não são coisas fáceis, sobretudo por causa das proporções e do tamanho das superfícies. Em geral, vou riscando as figuras, muitas vezes sem um desenho prévio. Sou um aventureiro”, descreve-se. 

A satisfação e o gosto pela pintura dos murais continuam como da primeira vez, quando um prefeito de Lagoa da Prata, ainda na década de 80, levou o artista, que havia acabado de deixar a carreira recente de quadrinista e chargista no jornal Estado de Minas, em Belo Horizonte, para uma visita ao prédio do fórum local. Heleno Nunes lembra com bom humor do convite para a pintura do seu primeiro mural, época em que não tinha experiência com técnica ou materiais. “Eu disse que ficaria maravilhoso, mas eu não tinha noção de nada. Eu só tinha uma ideia em mente, porque sempre criei com facilidade. Minha mãe ficou enlouquecida, porque eu nunca havia pintado na vida. Mas eu disse para ela que, se outras pessoas faziam isso, eu poderia fazer também”, lembra.

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A compra das tintas e materiais na Galeria do Ouvidor, tradicional ponto do comércio na capital, foi totalmente orientada pela vendedora, sem que o prefeito do município sequer suspeitasse da coragem — ou ousadia — do jovem pintor. “Anotei tudo o que ela disse. Voltei para a cidade e risquei o mural. Quando percebi que tudo estava dando certo, abri as portas do fórum para que as pessoas pudessem acompanhar a execução da obra. Eu tinha uns 28 anos. Depois da inauguração do fórum, algumas pessoas se interessaram por comprar meus quadros, mas eu não tinha nenhum.”

Infância

A paixão pela arte nasceu ainda na infância de Heleno Nunes. O artista não consegue se lembrar de uma única ocasião em que não tivesse uma caderneta no bolso para fazer seus esboços. Das histórias em quadrinhos para as charges até chegar aos murais e à pintura de cavalete, Heleno Nunes foi aperfeiçoando o uso de técnicas e materiais, sem nunca ter passado por uma escola formal de arte. “Deixei a escola na sétima série. A partir daí, dediquei as minhas horas ao desenho. Em Belo Horizonte, conheci muitos artistas. Nunca gostei de aquarela ou guache. Comecei com tinta a óleo e, anos depois, migrei para a tinta acrílica, que, inclusive, foi a utilizada em todas as telas da exposição do TJMG.”

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As pinturas, que se enquadram no estilo expressionista, representam a busca humana por seus objetivos e conquistas (Crédito: Cecília Pederzoli)

Heleno Nunes revela a forte influência dos artistas mexicanos sobre a sua obra e ressalta que pintar murais é bem mais do que ampliar quadros para grandes painéis. “O mural tem uma linguagem específica. Ela é narrativa e cheia de simbologias. Não é apenas um quadro grande”, ensina.

Mural

Na sede do TJMG, o primeiro plano era a pintura de um mural. Mas a ideia de uma exposição no amplo hall do prédio conquistou o artista, que se dedicou à produção de quase todas as telas nas semanas seguintes à visita ao Judiciário. “Eu não tinha quase nada pronto. Trouxe o painel que pintei para o novo fórum de Lagoa da Prata, além do retrato da mulher de um magistrado. O restante foi criado especialmente para a exposição. Eu tinha alguns esboços e comecei a planejar como seria. Eu não queria pintar por pintar”, revela o artista, que chegou a trabalhar 20 horas seguidas. O atual fórum de Lagoa da Prata foi inaugurado em 2020 e, em setembro deste ano, recebeu o painel Justiça, obra de Heleno Nunes.

Para o artista, trabalhar por encomenda é desafiador e instigante e, atualmente, é a forma predileta para conceber seus quadros. “Às vezes, eu tenho uma imagem na cabeça que, com certeza, não é a mesma de quem encomenda a pintura. Então, costumo fazer um esboço para que a pessoa tenha ideia do que estou pensando. É claro que não farei o trabalho se tiver que abrir mão dos traços que caracterizam a minha obra”, explica.

Para a exposição no TJMG, a temática livre deixou o artista bem à vontade para criar. “Essa é a vantagem de uma encomenda que te deixa livre para trabalhar. Porque, quando a pessoa começa a limitar a execução, o incômodo é grande”, resumiu. O artista disse que se debruçou na criação das obras, já que prefere não expor o que não ficou do jeito que gostaria. “Eu mexi em um dos quadros da exposição até a última hora, porque não havia gostado do resultado. Eu levantava à noite e ia fazer alterações nele. No final, achei que ficou bacana.”

Judiciário

Heleno Nunes já pintou diversas obras com a temática do Judiciário. “Quando se fala em ‘justiça’, as pessoas pensam em ‘cadeia’. Mas eu vejo outros ângulos. O painel do atual Fórum de Lagoa da Prata, por exemplo, traz a Justiça sem a venda nos olhos, mostrando que ela enxerga e participa de tudo, mesmo que nem sempre consiga resolver todas as questões”, afirma.

Na lista das obras preferidas pelo artista estão o seu primeiro mural e um quadro de cavalete em que retratou os pés de São Francisco de Assis. “Meu irmão foi o meu modelo. Eu me deitei no chão, no nível dos pés dele, e fiz a pintura. Eu me inspirei em um filme a que assisti com minha esposa no cinema. A obra foi vendida para um colecionador de São Paulo. Eu não tenho apego aos meus quadros, mas essa é uma das telas que eu gostaria de rever.”

Heleno Nunes diz que, nos últimos anos, fez apenas duas exposições, apesar dos muitos convites recebidos. “Às vezes, o artista expõe em galerias para compor o seu currículo. Mas esse não é o meu caso. Então, poder expor no TJMG somou muito e me trouxe grande alegria. O espaço é muito bonito, sem pilastras. Fiquei muito satisfeito com o resultado e costumo visitar a exposição para ficar lá admirando os quadros”, ressalta.

Impressões sobre o artista e suas obras

“Heleno Nunes tem uma forma própria de se expressar e o seu trabalho impressiona, além de agradar aos olhos. A arte dele é instigante, visionária, tem história, movimento e beleza. Por isso, ganha cada vez mais admiradores”

Desembargador Gilson Soares Lemes – Presidente do TJMG 

“É muito importante que o TJMG tenha um espaço destinado à arte de artistas mineiros e brasileiros. A obra do Heleno Nunes é maravilhosa, e os quadros estão belíssimos. Achei a exposição muito bonita e fiquei impactado. É uma arte extraordinária, que tem reconhecimento internacional”

 Desembargador José Flávio de Almeida – 1º Vice-presidente do TJMG

“A pintura revela a alma do artista, suas paixões, seus desejos, seus sonhos e fantasias. Em seus quadros, Heleno Nunes conseguiu imprimir seus sentimentos e suas emoções com uma delicadeza e sensibilidade ímpares, mostrando a identidade do seu estilo”

Desembargadora Mariangela Meyer – Superintendente adjunta da Ejef

“Parabenizo o 2º vice-presidente do TJMG, desembargador Tiago Pinto, pela iniciativa da belíssima exposição dos trabalhos do artista plástico Heleno Nunes no TJMG, que tive o prazer de visitar. As obras dele são carregadas de uma incrível originalidade, com cores vivas, marcantes e uma constante presença da figura humana. É um artista de talento admirável, cujas criações refletem a sua apurada sensibilidade”

Desembargador  Nelson Missias de Morais – Ex-presidente do TJMG

“Eu conheci as obras do artista plástico Heleno Nunes por meio do desembargador Tiago Pinto. Visitei a exposição no TJMG e fiquei bastante impressionado. Gostei muito do estilo e dos trabalhos dele”

Desembargador José Antonino Baía Borges – Aposentado 

“A obra do Heleno Nunes toca a nossa alma, descortinando com sensibilidade a realidade que nos circunda”

Professora Tatiana Camarão – Assessora técnica especializada – Gabinete da Presidência do TJMG

Quadros da mostra 

1 – Meu primeiro amor

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Meu primeiro amor (Crédito: Cecília Pederzoli)

O primeiro amor de uma criança que já “nasceu” atleticana. 

2 – Nu artístico

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Nu artístico (Crédito: Riva Moreira)

3 – Pai… 

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Pai… (Crédito: Riva Moreira)

Um Cristo que, no nosso mundo, foi terreno, porém, amparado pelos céus. Há uma cor viva e a luz, que vem do alto. O título sugere uma conversa dele com o pai. 

4 – Cristo na cruz

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Cristo na cruz (Crédito: Riva Moreira)

Cristo, mesmo na cruz, se mostra uma personagem forte, brilhante, em contato direto com o Sol, que, para muitos, representa Deus, a vida na Terra. O prego da mão direita já se soltou… a dor, os problemas terrenos, pois aqui ele foi terreno. 

5 – Descanso merecido

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Descanso Merecido (Crédito: Riva Moreira)

O colorido não nos mostra uma cama fria. No alto, em cinza, o mundo lá fora. O travesseiro branco, cor do brilho, do encantamento. O desenho do travesseiro nos mostra aconchego, apoio. O local e também a moça deitada estão em cores quentes. Os cabelos vermelhos representam os pensamentos ainda borbulhando. 

6 – Santa Ceia 

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Santa Ceia (Crédito: Riva Moreira)

Os 12 apóstolos são pessoas de ontem e de hoje. A primeira figura, com o “livro” na mão, aponta para o filho de Deus, enquanto, como em todas as festas, alguém tenta roubar-lhe a atenção. O terceiro, com os braços cruzados, revela quem ainda não “comprou” a ideia cristã. A última personagem nos mostra, através dos olhos e dos gestos, uma figura apaixonada pelo mestre. Cristo não nos oferece pão nem vinho e, sim, a hóstia consagrada. Cristo está compenetrado. A cor de seu manto se estende à cruz. Nessa mesa, os copos estão quase todos desordenados como na vida terrena. O menino simboliza uma mentalidade adolescente, incrédula, contrária a quase tudo que se revela superior à sabedoria juvenil. Vê-se o dedo dele no queixo; o outro dedo tapando a boca; o corpo inclinado para trás; a expressão, o celular, na contramão da festa. A figura em azul é alguém plena de paz, de fé em Deus. Uma mulher com Cristo, que pode ser Madalena o aconselhando. Por que não? Uma figura transparente, fora da mesa, à esquerda, simboliza a espiritualidade proposta para a última reunião com Cristo. 

7 – Retrato de Patrícia Damasceno 

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Retrato de Patrícia Damasceno (Crédito: Riva Moreira)

8 – Campesino

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Campesino (Crédito: Riva Moreira)

Como nos disse Euclides da Cunha, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Mental, física e espiritualmente. 

9 – Espera

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A Espera (Crédito: Riva Moreira)

Num ambiente de cores quentes, a garota espera alguém. O cabelo vermelho, a gargantilha, o brinco e a nudez fazem a leitura da cena ao som “daquela música”. A cor clara da porta sugere que esse alguém esperado vai adentrar o local. 

10 – Aquele dia em oração 

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Aquele dia em oração (Crédito: Riva Moreira)

É raro ou mesmo inexistente quem nunca se ajoelhou em fervorosa comunhão com o espiritual. 

11 – Justiça

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Justiça (Crédito: Riva Moreira)

A deusa Themis forte, imponente, soberana. A mão poderosa apresenta o equilíbrio em primeiro lugar. Nua, sem preconceitos; a venda, sem ênfase, nos mostra que a Justiça não só está em tudo como enxerga tudo. 

12 – Força e equilíbrio 

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Força e equilíbrio (Crédito: Riva Moreira)

A Justiça mostrando, em primeiro plano, o poder e o equilíbrio. 

13 – Campesina

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Campesina (Crédito: Riva Moreira)

Cortadora de cana com o podão em uma mão e a cana na outra. Ao fundo, todas as mulheres que venceram e ocuparam seus espaços. 

14 – Ceia Santa 

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Santa Ceia (Crédito: Riva Moreira)

A mão direita nos convida à ceia. A esquerda nos oferece o vinho. O pão partido é para ser compartilhado. Ao fundo, cor viva — vida. Ao redor: à esquerda, apóstolos de ontem; à direita, apóstolos de hoje. 

Painel Justiça – Será instalado no Fórum de Lagoa da Prata

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Painel Justiça (Crédito: Riva Moreira)

A deusa Themis envolta por um halo. Nele, figuras mortas para a vida, as quais vão ganhando cores (vida) à medida que vão passando pela Justiça. A deusa Themis foi pintada nua, um nu artístico, despida de preconceitos. Ela foi pintada sem a venda; a Justiça enxerga tudo. A espada é o poder que decide; ela é maior do que a balança. Em qualquer lugar em que esteja o observador, ele perceberá que a deusa está olhando para ele. Os braços dela o convidam a um abraço.

Painéis laterais: da esquerda para a direita, mãos criminosas; o dedo que acusa; o condenado contornado por um fio de arame farpado, a dor. No penúltimo quadro, a mão que ajuda, que salva, mas que também pode significar a mão que puxa para baixo ou que se recusa a ser ajudada. O último painel simboliza a libertação.

Fonte: Diretoria de Comunicação Institucional – Dircom

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